Envangelhos do Mar Morto - continuação

“Envangelhos do Mar Morto

Pseudo-Epígrafo de Gênesis

Livro de Melquisedeque

A Criação do Universo IV

No Éden pairava uma perfeita paz. Por todos os lados os passarinhos faziam ouvir seus alegres trinos em louvor constante ao Criador. Toda a natureza a florir parecia proclamar um reino de eterna alegria. Os animais sempre submissos ao homem, o senhor daquele paraíso encantador.

Tudo era felicidade para o casal; mas esta tornava-se mais intensa na viração daqueles dias primaveris. O arrebol, que com sua beleza coloria o céu prenunciando as escuras noites, anunciava-lhes também o momento da visita diária do Eterno. Juntos, sob a luz de Sua presença, passavam longo tempo em conversação. Com ânimo, o casal contava ao Senhor as surpreendentes maravilhas que iam descobrindo a cada dia na natureza. Deus, com carinho, descerrava-lhes o significado de cada ser.

Como Ele fora bom, trazendo-os à existência e concedendo-lhes um lar tão cheio de delícias! Ao despertarem para as alegrias de cada dia, vinham-lhes à lembrança as carícias e o doce canto do Eterno, que os fazia adormecer todas as noites.

A vida de Adão e Eva no Éden não era de ociosidade. A eles foi recomendado o cuidado do jardim. Sua ocupação não era cansativa, ao contrário, era agradável e revigorante. O Criador indicara o trabalho como uma fonte de benefícios para o homem, a fim de ocupar-lhe a mente e fortalecer-lhe o corpo, desenvolvendo-lhe todas as faculdades. Na atividade mental e física, o homem encontrava um elevado prazer.

Era comum ao jovem casal receber visitas de seres celestes. Aos visitantes sempre tinham novidades a relatar e perguntas a fazer. Passavam longo tempo ouvindo deles sobre as maravilhas do reino de luz. Através desses visitantes, Adão e Eva passaram a ter amplo conhecimento da rebelião de Lúcifer e de suas eternas conseqüências. Aos visitantes, Adão e Eva sempre pediam que lhes ensinassem os harmoniosos cânticos celestiais. Como se deleitavam ao unirem as vozes ao coro angelical!

Em Sua onisciência, Deus tinha conhecimento do terrível intento do inimigo. Convocando as Suas hostes principais, revelou-lhes com pesar o iminente perigo que pairava sobre o Universo. Satã haveria de armar uma cilada, a fim de levar o homem a comer da árvore da ciência do bem e do mal. Ante essa revelação, os filhos da luz ficaram temerosos, pois conheciam a tremenda facilidade de Satã em enlaçar criaturas inocentes e atirá-las em suas malhas de morte.

No solene concílio, sem a autorização de Deus, decidiram enviar, com urgência, mensageiros para advertirem o homem do grande perigo. Dois poderosos anjos foram encarregados dessa decisiva missão.

Imediatamente, os mensageiros comissionados irromperam pelos portais de Jerusalém, alcançando o seio do espaço infinito. Em instantes, transpuseram imensidões, cruzando todo o universo.

Podiam agora divisar a pouca distância o Jardim do Éden, onde o destino do Universo estava para ser decidido.

Adão e Eva viram então no límpido céu o sinal da aproximação dos visitantes celestes e a eles ergueram os braços numa alegre saudação. Adão e Eva admiraram-se, porém, por não verem no semblante deles a mesma alegria. Os visitantes traziam na face uma expressão de anseio que eles não podiam entender. Tentaram mudar-lhes a triste feição, contando-lhes as novas descobertas feitas no paraíso. Os mensageiros, todavia, não tendo tempo disponível como outrora, interromperam-nos com palavras de advertência. Satã haveria de armar-lhes uma cilada, a fim de levá-los a comer do fruto da árvore da ciência do bem e do mal. Se dessem ouvidos à tentação, fariam sucumbir toda a criação no abismo de um eterno caos.

Os anjos lembraram-lhes que o reino lhes fora confiado como um sagrado depósito, devendo, em uma vida de fidelidade, honrar Aquele que por amor esvaziou-Se, colocando-Se numa posição de hóspede do ser humano. Adão e Eva deveriam ser firmes ante as insinuações do inimigo, pois assim selariam a eterna vitória do reino da luz.

Falando-lhes da feliz recompensa que se seguiria ao seu triunfo, os anjos revelaram que era plano de Deus a transferência de Jerusalém Celeste para a Terra. Ali, novamente acoplada ao paraíso, permaneceria para sempre. E o homem, submisso ao Criador, reinaria pelos séculos sem fim sobre o monte Sião, em meio aos louvores das hostes universais.

Mas tudo isso dependia inteiramente do posicionamento humano frente às tentações do inimigo, que faria de tudo para arrebatar-lhe o reino.

Adão e Eva ficaram temerosos ao conhecerem os planos de Satã, mas foram consolados ao saber e que ele não poderia fazer-lhes nenhum mal, forçando-os a comer do fruto proibido. Se, porventura, procurasse intimidá-los com seu poder, todas as hostes do Eterno viriam em seu socorro.

Os mensageiros da luz concluíram sua missão recomendando ao casal permanecerem vigilantes, tendo sempre em mente a responsabilidade que sobre eles repousava.

Adão e Eva, agradecidos pelas advertências dos anjos, uniram as vozes num cântico de promessa em uma eterna vitória.

Estavam certos de que jamais abandonariam o bendito Criador, ouvindo a voz do tentador.

Animados ante a promessa humana, os dois mensageiros retornaram ao seio da Jerusalém Celeste onde, junto às hostes santas, aguardariam com anseio o anelado triunfo.

Satã viu aproximarem-se do paraíso os mensageiros e ouviu o canto do homem prometendo uma eterna vitória. Esse cântico fez com que sua inveja e ódio aumentassem de tal maneira que não os pôde conter. Disse então a seus seguidores que em breve faria silenciar aquela voz.

As hostes rebeldes ficaram curiosas para conhecer os planos de seu chefe, mas foram por ele advertidas de que deveriam aguardar até que tudo ficasse para sempre decidido. Se o homem ouvisse sua voz, comendo do fruto da árvore da ciência do bem e do mal, seria vitorioso, possuindo para sempre o domínio do Universo. Caso o homem resistisse, permanecendo fiel ao Criador, já não haveria qualquer esperança para eles.

O paraíso parecia estar envolvido por uma eterna segurança, mas no semblante do homem podia ser vista uma expressão de temor. Desde a partida dos anjos, Adão e Eva permaneciam silenciosos, meditando com reverência sobre a tremenda responsabilidade de sua missão. Pensavam na seriedade daquela iminente prova que haveria de selar o seu futuro e o de toda a Criação. Animados, contudo, ante o pensamento da vitória, uniram mais uma vez as vozes num cântico que expressava a certeza do triunfo anelado.

Satã, que observava atentamente o casal, percebeu estar chegando a sua oportunidade. Aproximou-se de forma invisível do paraíso, e ficou esperando o melhor momento.

Inconsciente da presença do inimigo, o casal continuava em sua desprendida alegria. No semblante transtornado de Satã estampou-se um maldoso sorriso, ao presenciar um descuido do casal: em sua exaltação, haviam afastado-se um do outro. O astuto inimigo, não perdendo tempo, apossou-se de uma serpente, a mais bela do paraíso, fazendo-a aproximar-se graciosamente de Eva.

Eva, que assentada no gramado brincava com os animais, percebeu a presença da atraente serpente, cujo corpo refletia as cores do arco-íris. Ficou admirada ao vê-la colher flores e frutos do jardim, depositando-os a seus pés.

Agradecida, tomou-a nos braços, dedicando-lhe afeto.

Tendo conquistado a afeição da mulher, Satã, em sua astúcia, começou a atraí-la para junto da árvore da ciência do bem e do mal. Sem se dar conta do perigo, Eva acompanhou a serpente até a árvore da prova. Ali, tendo nos braços o inimigo velado, acariciou-o e disse-lhe palavras de carinho. Tendo nos olhos o brilho da sedução, a serpente pôs-se a falar.

Suas palavras eram cheias de sabedoria e ternura e sua voz como a de um anjo. Eva mal pôde crer no que via. Sua alegria tornou-se imensa por ter nos braços uma criatura tão fantástica. Passaram a conversar sobre muitas coisas: o amor; as belezas do jardim; o poder do Criador. Eva ficou admirada ante o conhecimento tão vasto da serpente, que discorria com maestria sobre qualquer assunto. Envolvida por essa experiência, Eva esqueceu-se completamente de seu companheiro. Nem sequer passavam pela sua mente as advertências dos anjos.

Subitamente o coração de Adão pulsou forte por não ver Eva a seu lado. Ergueu então a voz num grito ansioso. Sua voz ecoou pelo paraíso, contudo, não trouxe consigo uma resposta. O silêncio quase o sufocou. Em sua aflição pôs-se a correr de um lado para outro, procurando-a, em vão. Nessa ansiosa busca, sentiu a brisa afagar-lhe os cabelos e recordou seu primeiro sonho. Essa lembrança, no entanto, desfez-se ante o pensamento do perigo que os ameaçava.

Com a mente tomada por um grande senso de culpa, Adão apressou o passo na aflitiva procura. Onde estaria a sua amada? Mais uma vez ergueu a voz num grito ansioso que repercutiu por todo jardim: "Eva, onde você está?" Aguardou uma resposta, mas ouviu somente um eco vazio que o desesperou.

Lembrou-se da árvore da ciência do bem e do mal; ali era o único lugar que não fora procurado.

Com a serpente em seus braços, Eva interrogou-a a respeito de muita coisa. Maravilhou-se ao perceber que a serpente a sobrepujava grandemente em conhecimento. Cheia de curiosidade, perguntou à serpente:

- Onde está a fonte de seu tão grande saber? Responda-me, pois quero também possuí-la.

Sem perder tempo, Satã, apontando para a árvore da ciência do bem e do mal, respondeu:

- Ali está a fonte de todo meu saber.

Ele conta então uma mentirosa história: disse que era uma serpente como as demais, comendo dos frutos do paraíso. Provando certo dia daquele fruto especial, recebeu, como que por encanto, todas as virtudes.

Olhando para a árvore da ciência do bem e do mal, Eva ficou surpresa e confusa. Privaria o Criador em seu amor algo tão bom às suas criaturas?! Vendo-a surpresa, Satã perguntou:

- É assim que Deus disse: “Não comereis de todas as árvores do jardim?”

Eva, inquieta, respondeu:

- Dos frutos das árvores do jardim comemos, mas do fruto dessa árvore que você diz ser fonte de sabedoria, disse Deus: "Não comereis dele, para que não morrais." A serpente em tom de desdém disse:

- Isso é falso. Se fosse assim, eu teria morrido. Certamente o Eterno os proibiu de comer dessa árvore para impedir que o homem venha a se tomar como Ele, conhecendo todas as coisas.

As palavras sedutoras da serpente causaram confusão na mente de Eva. Em quem confiaria? Tinha em mente a lembrança da ordem do Criador e de sua sentença, mas ao mesmo tempo tinha diante de si uma prova palpável que O contradizia.

Num desafio, a serpente colheu frutos da árvore proibida e passou a saboreá-los. Colocando um fruto nas mãos da mulher, incentivou-a a comer, dizendo:

- Não disse o Eterno que se alguém tocasse nesse fruto morreria?

Em Jerusalém havia grande comoção. Poderosos anjos apresentaram-se diante do Criador, solicitando permissão para esmagarem o covarde inimigo, oculto naquela serpente. O Eterno, contudo, impediu-lhes tal ação. Deviam respeitar o livre-arbítrio concedido ao homem, podendo ele manifestar sua escolha sob a tentação do inimigo.

Os filhos da luz sofriam imensamente ao verem a mulher duvidando dAquele que tão bondosamente lhes dera a vida e a oportunidade de reinarem naquele paraíso. Como poderia duvidar de quem lhes dedicava tanto amor?!

Eva vacilava em sua convicção ao contemplar o fruto em suas mãos. Seu brilho, seu encanto, uma forte magia atraia aquele fruto a sua boca. Por alguns momentos o futuro pareceu-lhe sombrio e aterrador, mas venceu esse sentimento, pensando nas glórias que haveria de conquistar ao comer aquele fruto. Ainda um tanto indecisa, ergueu vagarosamente as mãos até tocar o fruto com os lábios.

Os súditos do reino da luz, estremecidos, inclinaram-se tomados por grande espanto. Parecia quase impossível, àquela altura, a mulher voltar atrás.

Enquanto pálidos os fiéis indagavam sobre uma possível esperança, presenciaram com horror a terrível decisão de Eva: resolvera romper para sempre com o Criador, tornando-se cativa da morte.

O Eterno, que em silêncio e dor contemplava aquela cena de rebelião, curvou a fronte.

Os fiéis, que em pânico julgavam-se vencidos, foram conscientizados de que nem tudo estava perdido. Se Adão resistisse à tentação, permanecendo fiel ao Eterno, ele selaria a grande vitória. Eva, que fora vítima de um engano, poderia ser conscientizada de seu erro, sendo favorecida com o perdão divino.

Quando Adão em sua angustiosa corrida alcançou o lugar da árvore, já era tarde demais. Assentada junto ao rio, Eva saboreava despreocupadamente o fruto proibido. Adão estremeceu. Seria mesmo o fruto da prova? Num gesto de esperança olhou para a árvore da ciência do bem e do mal, mas em pranto reconheceu a triste condenação. Cheio de tristeza contemplou sua esposa, mas não encontrou palavras para despertá-la para tão amarga realidade. Em completo desespero, ergueu a voz numa dolorosa exclamação:

"Eva, Eva, o que você está fazendo!"

Ao comer do fruto proibido, a mulher foi tomada por emoções que a fizeram imaginar haver alcançado uma esfera superior de vida. Ao ouvir a voz de seu esposo, ainda tomada pelas ilusórias emoções, ergueu a fronte estampando um sorriso, mas surpreendeu-se ao vê-lo chorando.

Com profunda amargura, Adão procurou saber a razão que a levara a rebelar-se contra o Eterno. Eva, prontamente, passou a contar-lhe a fantástica história da sábia serpente.

Satã sabia que essa história de serpente jamais convenceria o homem a comer do fruto da árvore proibida.

Precisava encontrar uma maneira sutil de levá-lo a selar sua sorte seguindo os passos de sua esposa. Tendo Eva sob seu poder, resolveu fazer dela o objeto tentador. Aguardaria o momento oportuno para enlaçá-lo.

No dia em que dela comerdes, certamente morrereis. A lembrança desta sentença deixava Adão muito aflito.

A expectativa de ver sua amada perecendo em seus braços, era demais para suportar. Esta aflição, contudo, foi diminuindo, ao ver que ela continuava feliz e carinhosa ao seu lado, como se nenhum mal lhe houvesse acontecido. Aliviado, Adão voltou a sorrir, correspondendo aos afetos de sua companheira. Rendia-se às mais doces emoções, longe de saber que era o inimigo quem o envolvia naqueles abraços.

Nesse momento de enlevo, Eva começou a falar-lhe de sua experiência com a ciência do bem e do mal. Falou-lhe dos tesouros da sabedoria que lhe haviam sido abertos. Em seu novo reino, viveria muito feliz. Entretanto, essa felicidade seria incompleta sem a participação de seu esposo. Falou-lhe da impossibilidade de retroceder em seus passos, e insistiu para que ele a seguisse.

Depois de falar-lhe de sua decisão, Eva, com um doce sorriso, estendeu-lhe as mãos contendo um fruto, pedindo-lhe que o comesse numa demonstração de seu amor por ela.

Com a voz tentadora em seus ouvidos, Adão assentou-se no gramado em profunda reflexão. Sua face tornou-se novamente pálida e suas mãos trêmulas. Temia rebelar-se contra o Criador, mas ao mesmo tempo compreendia que não conseguiria viver separado de sua companheira, a quem amava com infinito amor. Eva era carne de sua carne, a extensão de seu ser.

Sentia-se angustiado ao ter de tomar uma decisão tão séria.

A palidez do rosto de Adão refletiu-se no semblante de todos os fiéis ao Eterno. Ouviram a insinuação do inimigo e perceberam com horror a vacilação do homem. A indecisão de Adão deixava-os desesperados. Obedecesse ele àquela proposta de Satã, toda felicidade seria eternamente banida. Nas decisões do ser humano estava o destino de todo o Universo.

Depois de intensa luta íntima, Adão olhou para sua companheira; a ela unira-se em promessas de uma eterna entrega. Não a deixaria só agora. Partilharia com ela os resultados da rebelião. Tomou então das mãos de Eva um fruto e, num gesto apressado, levou-o à boca.

Procurando abafar a voz de sua consciência, que lhe falava de uma eterna perdição, Adão lançou-se nos braços de sua esposa, desfrutando o alto preço de sua rebelião.

Satã, com brados de triunfo, deixou o paraíso, voando rapidamente para junto de suas inumeráveis hostes, que aguardavam ansiosas o resultado de tão arriscada tentativa. Ao saberem da desgraça humana, uniram-se numa estrondosa festa. Sentiam-se seguros. Sião agora lhes pertencia por direito, podendo lá estabelecer um reino eterno, jamais sendo molestados pelas leis do Eterno.

Em todo o Universo os filhos da luz sofriam e pranteavam a derrota. Nunca houvera tanta tristeza e horror ante o futuro. As vozes que viviam a entoar louvores ao Criador proferiam agora lamentações.

O Eterno, antes mesmo de criar o Universo já havia previsto esse triunfo da rebeldia e, em Sua sabedoria e amor, idealizara um plano de resgate. Ordenou que Seus mais poderosos anjos circundassem imediatamente o jardim do Éden, impedindo que Satã tomasse posse do monte Sião. Consoladas ante a manifestação divina, as potentes criaturas, em pronta obediência, romperam o espaço infinito, circundando em instantes o paraíso, no seio do qual o ser humano, já transtornado pelo pecado, vivia o negror de uma noite que seria longa e cruel.

Sendo a autoridade do Eterno fundamentada na justiça, de que maneira poderia justificar Suas ações diante dos inimigos? Não entregara por Sua vontade o reino ao homem, e esse por livre escolha não o submetera a Satã? Enquanto surpresas as criaturas racionais consideravam as ações decisivas de Deus, ouviram Sua potente voz que, repercutindo por toda a criação, trazia a revelação do grande mistério - revelação tão maravilhosa que a partir daquele momento, por toda a eternidade, ocuparia a mente dos fiéis, sendo tema para as mais doces meditações.

O Eterno falou primeiramente sobre a terrível condenação que pendia sobre o homem e toda a criação. Disse que, ao se desligar da Fonte da Vida, o homem havia se precipitado em tão profundo abismo que não poderia ser alcançado pelo Seu braço de justiça e poder. Humilhado e torturado pelas garras do inimigo, não restava ao homem outra sorte além da morte - fruto doloroso de sua espontânea rebelião.

Considerando a situação humana, as hostes da luz não viam possibilidades de triunfo. Sabiam que só o homem poderia retomar o domínio do inimigo, devolvendo-o ao Criador. Mas o ser humano, eternamente escravizado em sua natureza, seria incapaz de tal vitória.

Com voz melodiosa e cheia de ternura, Deus revelou o plano da redenção, dizendo: "Na verdade, o homem colherá o fruto de sua rebelião numa terrível morte. Não posso, com o meu poder, mudar-lhe a sorte. Se assim agisse, seria injusto diante de meu decreto. Mas farei cair toda a condenação sobre um Substituto que surgirá na descendência humana. Esse Homem não trará em suas mãos as algemas da morte, sendo inocente e incontaminado em Sua natureza. Como representante da raça humana, enfrentará Satã e o vencerá. Após triunfar nessa batalha, provando que o amor é mais forte que o egoísmo, que a verdade é mais forte que a mentira, que a humildade é mais poderosa que o orgulho, o fiel Substituto erguerá as mãos vitoriosas não para saudar a grande conquista, mas para tomar das mãos da humanidade escravizada a taça de sua condenação. Sorverá assim, submisso, o cálice da eterna morte. Esse imenso sacrifício abrirá aos seres humanos uma oportunidade de serem redimidos, voltando aos braços do Criador, juntamente com o domínio perdido."

As hostes, surpresas ante a revelação do Eterno, indagaram a identidade d'Esse Substituto. O Criador, com um sorriso amoroso, disse-lhes: "Parte de Mim será esse Homem. O Meu Espírito repousará sobre uma virgem, e nela será gerado um Filho Santo. Esse menino será divino e humano. Em sua humanidade, ele será submisso à divindade que n'Ele habitará. Os remidos verão n'Ele o Pai da Eternidade, o Criador e Redentor, o Rei dos reis. O Seu nome será Yoshua (nome hebraico que traduzido significa o Eterno salva)."

Assumindo a natureza humana, Deus poderia pagar o resgate, morrendo em lugar dos pecadores.

As hostes da luz ficaram emudecidas ao conhecer o plano do Criador. O pensamento de verem-nO submeter-Se a tão penoso sacrifício, a fim de redimir o domínio perdido, era demais para suportarem. Não havia, contudo, outra esperança de vitória, a não ser através dessa amorosa entrega.

Após desfrutar o pecado, o jovem casal sentiu-se mal. Inicialmente sentiram um grande vazio no coração, que logo foi preenchido pelo remorso e pela tristeza. Perceberam que, inspirados pela cobiça, haviam selado sua triste sorte e a de toda a criação. Parecia-lhes ouvir ao longe o gemido de um Universo vencido.

O sol, que os enchera de vida e calor naquele dia, ocultava-se no horizonte, anunciando-lhes uma negra noite.

O arrebol, que até ali anunciara-lhes o feliz encontro com o Criador, parecia envolve-los numa sentença de que jamais despertariam para um novo dia. Com o olhar voltado para o frio solo, vinha-lhes à lembrança a sentença: "No dia em que dela comerdes, certamente morrereis." Desesperadas lágrimas rolavam em seus rostos ao aguardarem o trágico fim.

Ao considerar o motivo de sua rebelião, Adão começou a recriminar sua esposa por ter dado ouvidos à serpente. Eva, por sua vez, procurando desculpar-se, lançou a culpa sobre o Criador, dizendo: "Por que o Eterno permitiu que a serpente me enganasse?!"

O amor que reinava no coração humano desaparecia, dando lugar ao orgulho e ao egoísmo, que se fundiam em ressentimentos e ódio. Sua natureza já não era pura e santa, mas corrompida e cheia de rebeldia. Tudo estava mudado.

Mesmo a brisa mansa que até ali os havia banhado em carícias refrescantes, enregelava agora o culposo par. As árvores e os canteiros floridos, que eram seu deleite, consistiam agora em empecilhos ao caminharem sem rumo naquela noite.

O propósito de Satã em encher o sábado de trevas parecia haver se cumprido. Naquela noite, não existia sequer o reflexo prateado do luar para falar-lhes de esperança. As estrelas cintilantes, suspensas no escuro céu, estavam ofuscadas pela dor.

Baixavam sobre o mundo as trevas de uma longa noite de pecado - sombras sob as quais tantos se arrastariam sem esperança de um alvorecer.

A noite já ia alta e as trevas pareciam envolver o triste casal em eternas sombras quando surgiu repentinamente um brilho no céu, que ia aumentando à medida que se aproximava da Terra. O casal estremeceu, pois sabia que era o Criador que vinha dar-lhes o castigo. Vencidos pelo pânico, puseram-se a correr, distanciando-se do monte Sião, o lugar da vergonhosa queda. Justamente para ali viram o Criador dirigir-Se. Eles, que sempre corriam ao encontro do amoroso Pai, atraídos por Sua luz, fugiam agora desesperados em busca de lugares escuros, de densa floresta.

O Eterno, movido por infinito amor, passou a seguir os passos do casal fugitivo.

Como tudo se transformara! Seus filhos não conseguiam mais ver n'Ele um Pai de amor, mas alguém que, irado, buscava castigá-los.

Movido por forte anseio de abraçar Seus filhos humanos, Deus fez ecoar a voz numa indagação: "Adão, onde vocês se encontram?" Sua voz, ao soar em meio às trevas, trazia consigo somente um eco vazio.

Quantos, enganados por Satã, fugiriam de Sua presença no decorrer da longa noite de pecado, julgando-No um Senhor tirano, que vive buscando falhas e fraquezas nos pecadores, a fim de castigá-los! O Criador, todavia, não desistiria de procurá-los pelos vales sombrios do reino da morte, até conquistar um povo arrependido.

Adão e Eva, exaustos pela pressurosa fuga, esconderam-se por entre a folhagem de um pé de figueira. Reconhecendo sua nudez, procuraram fazer aventais cosendo aquelas folhas. Vestidos assim, julgaram poder livrar-se do sentimento de vergonha ante o Criador.

O Eterno, aproximando-Se do local onde o casal se escondia, perguntou:

- Adão, onde estão vocês?

Não podendo mais se ocultar de Deus, Adão ergueu-se juntamente com sua companheira e, cabisbaixos, apresentaram-se ao Criador, prostrando-se trêmulos a Seus pés. Não conseguiram encará-Lo mais, devido ao senso de culpa.

O Criador, carinhosamente, tomou-os pelas mãos, erguendo-os do chão, e, com expressão de tristeza no semblante, perguntou-lhes:

- Por que vocês fugiram de Mim? Acaso comeram do fruto da árvore da ciência do bem e do mal?

Adão, todo trêmulo, com voz entrecortada de temor, respondeu:

- A mulher que me deste por companheira, ela deu-me o fruto e eu comi.

Com esta resposta, Adão procurava desculpar-se, lançando a culpa sobre sua companheira.

Voltando-Se para Eva, o Eterno indagou-lhe:

- Por que você fez isso?

Eva prontamente respondeu-Lhe:

- Aquela serpente me enganou e eu comi.

Ambos não queriam reconhecer a culpa, lançando-a sobre outrem. Em suma, atribuíam ao Criador a responsabilidade por todo o mal praticado: "Por que concedera-lhes o livre-arbítrio? Por que criara a mulher? Por que criara a serpente?"

Deus observava Seus filhos que, tímidos e desconcertados, permaneciam diante de Si. Com profunda tristeza, Ele previu que essa seria a experiência de incontáveis seres humanos no decorrer da história. Quantos haveriam de se perder por não reconhecerem a própria culpa! Quantos procurariam justificar-se, lançando seus erros sobre os outros e até mesmo sobre o Criador!

Com palavras brandas, o Eterno procurou fazê-los reconhecer sua culpa. Somente reconhecendo sua necessidade, poderiam ser ajudados.

Olhando para as frágeis vestes tecidas por mãos pecadoras, disse ao casal:

- Filhos, essas vestes são insuficientes, logo secando se desfarão. Vocês precisam de vestes duradouras, que possam cobrir vossa nudez, livrando-vos da condenação. Se vocês quiserem, Eu posso dar-lhes essa veste.

Ante as palavras bondosas do Criador, que traziam esperança, o casal prostrou-se arrependido, despindo-se de suas ilusórias vestes, símbolos de seu fracasso. Almejavam agora as vestes da salvação, prometidas pelo divino Pai.”

Leia Mais ►

CONVITE DE ANIVERSÁRIO

clip_image002

Estará aniversariando neste domingo, dia 28 de março de 2010, o Sr. Francisco de Lira Pessoa, famoso tecladista sobralense mais conhecido pela alcunha de Tio do Rei.

O aniversariante convida aos amigos e clientes a se fazerem presentes à confraternização que será realizada no Sítio do Timbal, no bairro D. Expedito, a partir das 11:00h de domingo.

Ao amigo Tio do Rei desejo muitas felicidades, paz e harmonia entre amigos e familiares e que a data seja repetida por incontáveis vezes.

antromsil

Leia Mais ►

QUEM MANDA NO QUE É MEU...

Quem manda no que é meu sou eu!

Essa frase tem sido dita milhões de vezes por pessoas que se sentem ofendidas em seus legítimos direitos de uso ou posse. Mas, será que temos mesmo o direito de, em alguns momentos, bradar exigindo o reconhecimento dessa posse ou uso do que é legalmente nosso? Façamos então a seguinte análise:

O aparelho de som, a TV, o computador e outros objetos de uso doméstico são sempre disputados entre os familiares querendo ouvir este ou aquele estilo de música, esta ou aquela programação televisiva ou, no caso do computador, uns querem ver o Orkut, outros, o MSN e, sem querer me delongar, articulo, a confusão está feita e um acordo entre todos é tarefa difícil de cumprir.

Além do mais, em se tratando de som, você não pode usar deliberadamente o volume, sob pena de infringir o direito ao sossego do seu visinho, donde se conclui que comprar equipamento de som potente é perda de tempo e dinheiro.

Compramos um alinha telefônica e nunca terminamos de pagar porque tem, além dos serviços, a assinatura mensal. Os serviços de água e esgoto, energia elétrica, etc., às vezes falham e todo ano tem suas tarifas reajustadas ao nosso contragosto, empurrados goela abaixo. Quando acontece de eles errarem em alguma coisa é sempre em seu favor e o usuário paga o pato e é quem tem que provar que eles estão equivocados, ferindo um principio legal que diz “caber o ônus da prova a quem acusa”. E isso, sem contar com alguns contratos sob comodato, nos quais pagamos pelo o objeto de uso e no final do contrato, temos que devolver. Pode?

O veículo adquirido a duras penas comprado à vista ou financiado, nunca pode ser plenamente usufruído porque tem sempre alguma coisa para pagar, como: licenciamento anual, IPVA, seguro total, revisão, estacionamento, lavagem, combustível e um eventual reparo, porque eles também quebram, e isso além da exploração dos aproveitadores “flanelinhas” que cobram um serviço que o proprietário de veículo não contratou. E o pior de tudo é que a cada dia o veículo se desvaloriza mais, tornando-se assim, um investimento sem retorno, porque conservá-lo em bom estado de utilização e segurança não sai nada barato.

O imóvel urbano e a propriedade rural são também casos de posse incompleta. Na cidade, você nunca termina de pagar IPTU e nem pode fazer modificações em sua edificação sem autorização da Prefeitura e do CREA. Ou seja, a propriedade é sua, mas você não manda nela.

Sendo uma edificação nova tem que ter autorização da Prefeitura (Alvará e “Habite-se”),do CREA, do INSS, do IBAMA, da SEMACE, da Igreja (laudêmio), registro em cartório e sabe-se lá mais o que e, no caso do apartamento, o condomínio é quase eterno.

Sendo na área rural, o INCRA também abocanha uma certa quantia anualmente. Embora seja o proprietário legal da terra você não pode desmatar, fazer queimadas, etc., porque há de se haver com o IBAMA. Se por ocaso sejam descobertas algumas riquezas no seu subsolo a posse destas passa a ser do governo federal restando para o verdadeiro dono somente alguns cobres a título de “royaltys”. Existe proibição até na retirada de areia dos rios.

“É, mas pelo menos na minha mulher eu mando”. Nem sempre. E é aí que muita gente se engana. Os motivos são bastante óbvios, pois, a mulher tem vontade própria e todos sabemos que se ela não quiser se submeter à vontade do marido pode fazê-lo sem nenum embaraço. E tente bancar o durão pra ver se não vai ter problemas com Polícia e com a Justiça!

Existem casos em que quem dá as ordens mesmo é a “patroa”, classe de mulher de personalidade forte, cujo magnetismo impõe respeito e autoridade que são apanágio de seu espírito e o marido tem mais é que obedecer e pronto, acabou-se a conversa, porque nós homens não mandamos em nada!

Por antromsil

Leia Mais ►

EVANGELHOS APÓCRIFOS - Continuação

“Envangelhos do Mar Morto

Pseudo-Epígrafo de Gênesis

Livro de Melquisedeque

A Criação do Universo III

Ao serem vencidas as trevas no terceiro dia, o Criador prosseguiu Sua obra, fazendo surgir os imensos continentes que ainda estavam sob a superfície das águas. Com as mãos erguidas ordenou: "Ajuntem-se as águas debaixo dos céus num lugar e apareça a porção seca."

Em pronta obediência, as cristalinas águas cederam sua posição superior à porção seca que se ergueu, sobrepondo-se a elas.

Nas regiões baixas da Terra, as águas continuariam refletindo o brilho celeste, sendo um refrigério para as criaturas sedentas.

Nesse gesto de humildade, as águas prefiguravam o Criador, que na grande luta desceria ao mais profundo abismo para fazer renascer nas almas sedentas a vida eterna.

Contemplando a face daquele novo mundo, o Eterno denominou a parte seca "terra", e ao ajuntamento das águas chamou "mares".

Com Sua poderosa voz prosseguiu, ordenando: "Produza a terra erva verde, erva que dê semente, árvore frutífera que dê fruto segundo a sua espécie, cuja semente esteja nela sobre a terra."

Em obediência ao mando divino, a superfície sólida do planeta revestiu-se de toda sorte de vegetação: lindos prados a florir, campos verdejantes entrecortados por rios cristalinos, florestas sem fim.

Enquanto com admiração as hostes contemplavam as belezas daquela criação, surpreenderam-se ao reconhecer sobre o novo planeta o jardim do Éden, lugar do trono divino. O Eterno, pelo poder de Sua palavra, o havia transferido para o seio daquele mundo especial, onde em justiça seria confirmado o governo do Universo.

Contemplando Sua obra, o Criador com felicidade exclamou: "Eis que tudo é muito bom." As hostes fiéis agora podiam compreender melhor a importância da luz divinal. Sua ausência havia ofuscado, naquela noite, as belezas de Sião.

Nesse novo dia, o Criador expressaria o Seu grande poder, dando à Terra luminares que a encheriam de luz e calor. Esses luminares permaneceriam para sempre como símbolos da presença espiritual do Eterno, que é a fonte de toda a luz.

Contemplando o espaço escuro e vazio que se estendia ao redor da Terra, com potente voz ordenou: "Haja luminares na expansão dos céus, para haver separação entre o dia e a noite; sejam eles para sinais e para tempos determinados, para dias e anos. E sejam para luminares na expansão dos céus para alumiarem a Terra."

Imediatamente, o espaço tornou-se radiante pelo brilho do sol e pelo reflexo de planetas e estrelas. Ante esta demonstração de poder, as hostes fiéis curvaram-se em reverente adoração.

No quarto dia, o Eterno criou os mundos de nosso sistema solar não para serem habitados como a Terra, mas para o equilíbrio do sistema. Encheriam também o céu de fulgor, abrandando as trevas das noites terrenas.

Volvendo os olhos para a Terra, as hostes alegraram-se por vê-la radiante em cores. Bem próximo dela podia-se ver a Lua que, com seu reflexo prateado, afugentaria as profundas sombras noturnas.

Envolvidos por esse cenário encantador, os filhos da luz, rejubilantes, saudaram o alvorecer do quinto dia, que seria de muitas surpresas. O Eterno tornaria a Terra festiva pela presença de infindáveis espécies de animais irracionais que habitariam toda a superfície do planeta. Essa criação teria continuidade no sexto dia.

Erguendo as poderosas mãos, o Criador, olhando primeiramente para as cristalinas águas, ordenou: "Produzam as águas abundantemente répteis de alma vivente."

De imediato, as águas tornaram-se ondulantes pela presença de incontáveis espécies de répteis. Desde os seres microscópicos até as grandes baleias, todos surgiram em completa harmonia, refletindo em sua natureza o amor do Criador.

Pousando os olhos sobre a atmosfera anil que repousava sobre as verdejantes florestas, o Eterno continuou: "Voem as aves sobre a face da expansão dos céus".

Mediante Sua ordem, os Céus encheram-se de pássaros coloridos que, voando em todas as direções, tinham no coração um cântico de gratidão pela vida. Esse cântico encheu o ar, misturando-se com o perfume das matas floridas.

Contemplando com prazer Suas criaturas terrenais, o Eterno abençoou-as dizendo: "Frutificai e multiplicai-vos e enchei as águas nos mares, e as aves se multipliquem na Terra."

Alvorecer do sexto dia. Erguendo os potentes braços, o Eterno ordenou: "Produza a Terra alma vivente conforme a sua espécie: gado, répteis e bestas-feras da terra, conforme a sua espécie."

Sua voz poderosa foi prontamente ouvida e, nas florestas e campos, pôde-se ver o resultado de Seu poder criador. Animais de todas as espécies despertaram numa existência feliz, em meio a um paraíso de perfeita paz.

Erguendo as poderosas mãos, o Criador, olhando primeiramente para as cristalinas águas, ordenou: "Produzam as águas abundantemente répteis de alma vivente."

De imediato, as águas tornaram-se ondulantes pela presença de incontáveis espécies de répteis . Desde os seres microscópicos até as grandes baleias, todos surgiram em completa harmonia, refletindo em sua natureza o amor do Criador.

Pousando os olhos sobre a atmosfera anil que repousava sobre as verdejantes florestas, o Eterno continuou: "Voem as aves sobre a face da expansão dos céus".

Mediante Sua ordem, os Céus encheram-se de pássaros coloridos que, voando em todas as direções, tinham no coração um cântico de gratidão pela vida. Esse cântico encheu o ar, misturando-se com o perfume das matas floridas.

Contemplando com prazer Suas criaturas terrenais, o Eterno abençoou-as dizendo: "Frutificai e multiplicaivos e enchei as águas nos mares, e as aves se multipliquem na Terra."

Alvorecer do sexto dia. Erguendo os potentes braços, o Eterno ordenou: "Produza a Terra alma vivente conforme a sua espécie: gado, répteis e bestas-feras da terra, conforme a sua espécie."

Sua voz poderosa foi prontamente ouvida e, nas florestas e campos, pôde-se ver o resultado de Seu poder criador. Animais de todas as espécies despertaram numa existência feliz, em meio a um paraíso de perfeita paz.

Movendo-Se com majestade, o Eterno baixou às glórias do novo mundo, dirigindo-Se ao jardim do Éden, lugar do divino trono. Os anjos da luz acompanharam-nO reverentes, detendo-se qual nuvem sobre os céus do paraíso. Todo Universo observava com profundo interesse o desdobramento dos atos do Criador, em resposta às acusações de seus inimigos.

O momento era decisivo. Tudo indicava que o Eterno demonstraria não ser tirano nem egoísta, coroando alguém sobre o monte Sião. Satã e seus seguidores não duvidavam de que o reino lhes seria entregue e reinariam vitoriosos no seio daquele antigo abismo, onde as trevas e a luz agora se entrelaçavam. Os súditos da luz estremeceram ante essa perspectiva.

Junto à fonte do rio da vida, o Eterno curvou-Se solenemente e, com os elementos naturais da Terra, começou a moldar, com muito carinho, uma criatura especial. Depois de alguns instantes, estava estendido diante do Criador o corpo, ainda sem vida, do primeiro homem. O Eterno contemplou-o e, após acariciar-lhe a face fria e descorada, soprou-lhe nas narinas o fôlego da vida e o homem começou a viver.

Como que despertando de um sono, o homem abriu os olhos e contemplou a face meiga de Seu Criador que, sorrindo, beijou-lhe a face agora corada e cheia de vida. Emocionou-se ao ouvir o Eterno dizer-lhe com voz suave e cheia de afeição: "Meu filho, meu querido filho!". Por ter nascido do solo, o primeiro homem recebeu o nome de Adão.

As hostes fiéis que admiradas testemunhavam a grandiosa realização divina, emocionadas ante o gesto humano, prostraram-se também em reverente adoração. Uniram então as vozes num cântico de júbilo em saudação àquela criatura especial, que despertava para a vida num momento tão decisivo para o Universo.

Com o coração cheio de felicidade, Adão uniu-se aos anjos em seu cântico de louvor. Sua voz, ao ecoar pelos arredores floridos, misturou-se ao canto das aves e ao mugir de animais que se aproximavam em festa.

Num passeio de surpresas inesquecíveis, Adão foi conscientizado das belezas de seu lar. Com admiração, contemplou o monte Sião, donde jorrava o rio da vida, numa cascata de luz.

Com intensa alegria, Adão tomava conhecimento das infindáveis espécies de animais que povoavam o jardim. Todos eram mansos e submissos e viviam em perfeita harmonia e felicidade.

Observando os animais, Adão percebeu que eles desfrutavam de um companheirismo especial. Via por toda parte casais felizes que viviam um para o outro. Seus pensamentos voltaram-se para o Seu Companheiro. Olhou ao derredor e ficou surpreso por não vê-Lo. O Eterno havia Se ocultado propositalmente, tornando-Se invisível.

Adão sentia-se solitário em meio àquele paraíso. Com quem partilharia sua felicidade e seu amor? Havia ali os animais, mas eles eram irracionais, não podendo compartilhar de seus ideais. Nascia em seu coração, ao caminhar solitário naquele entardecer, um desejo ardente de encontrar alguém que pudesse estar sempre a seu lado.

Enquanto Adão olhava para as distantes colinas na esperança de ver alguém, o Eterno apresentou-Se ao seu lado e disse-lhe: "Não é bom que o homem esteja só; far-lhe-ei uma companheira."

Adão ficou feliz ao ouvir do Criador essa promessa, justamente no momento em que tanto ansiava ter alguém para estar sempre visível a seu lado.

Tomado por um profundo sono, Adão reclinou-se no peito de seu amoroso Criador que, com carícias, o fez adormecer. Em seu subconsciente surgiram os primeiros sonhos: Contempla o olhar meigo do Eterno; ouve o som harmonioso da música angelical; descobre as maravilhas ao derredor: o monte Sião com seu arco-íris; o rio da vida; os prados em flor; os animais que o saúdam em festa. Repetem-se em seus sonhos as cenas que o envolveram em seu anseio; olha ao derredor na esperança de encontrar seu companheiro, mas não o vê. Sente-se solitário em seu sonho, e isso o faz procurar alguém com quem possa compartilhar sua existência. Seu olhar estende-se por campinas verdejantes, divisando ao longe colinas floridas. Enquanto caminha esperançoso, sente a brisa mansa a afagar-lhe os cabelos macios. Conversa com a brisa: "Brisa, você parece ser quem tanto procuro; você me afaga os cabelos; beija minha face; você tem o perfume das verdes matas. Se eu pudesse ver sua face, beijá-la-ia; se eu pudesse tocar os seus cabelos, faria longas tranças e as enfeitaria com as flores do nosso jardim!"

Após caminhar em sonho pelos prados do paraíso, Adão deteve-se enquanto contemplava a paisagem ao redor. Admirou-se por não ver o efeito da brisa nos ramos floridos. Mas como, se a sentia calidamente no rosto? Começou então a despertar de seu sonho. Ainda com os olhos fechados lembrou-se do momento em que, sonolento, recostara-se no peito do Eterno. Seria a brisa o afago de Suas mãos? Com esta indagação abriu os olhos e emocionou-se ao contemplar uma linda mulher que, com as mãos perfumadas, acariciava-lhe a face com amor. Era a brisa de seu sonho; a promessa de um Criador que só queria fazê-lo feliz.

Agora Adão era completo, pois tinha Eva, que era carne de sua carne e ossos de seus ossos.

Tomando-a pela mão, Adão convidou-a para um passeio de surpresas inesquecíveis. Mostraria à sua companheira as belezas de seu lar.

Sensibilizada Eva detinha-se a cada passo, atraída pelas flores que exalavam suaves perfumes; pelos pássaros que gorjeavam alegres cantos; pelos animais que os seguiam submissos; pela vegetação de ricos matizes; pelas águas cristalinas do rio da vida que jorravam em cascata do monte Sião. Tudo no paraíso era perfeito e belo, mas nada se igualava ao ser humano, criado à imagem de Deus. Voltaram-se um para o outro em admiração e carícias. Embalados por esse amor, permaneceram até o entardecer.

Com deleite, o jovem casal passou a contemplar o sol poente que, através de rosados raios, coloria o céu em lindo arrebol.

Era o sexto dia que chegava ao seu final, dando lugar às horas de um dia especial: o sábado. Esse dia, em seu significado, seria solene para todos os súditos do Eterno, pois seu alvorecer traria a vitória para o reino da luz.

Indagavam o sentido das trevas quando, por entre as ramagens, viram um lindo luar, cujos raios prateados banhavam a natureza em suave luminosidade. Todo o céu estava iluminado pelo fulgor das estrelas. Admirados, descobriram que a noite somente era trevas quando se olhava para baixo.

Adão e Eva em sua inocência não sabiam que aquela noite simbolizava o futuro sombrio da humanidade.

Quando o compreendessem, ficariam confortados ao contemplar o fulgor dos céus: o luar falaria de esperança e as estrelas cintilantes testemunhariam o interesse das hostes da luz em aclarar-lhes as trevas morais, dando alento aos pecadores.

Mas seriam iluminados apenas aqueles que, desviando os olhos da Terra, contemplassem os altos céus.

Após contemplar por algum tempo o céu em sua luminosidade, o casal, lembrando-se das belezas do paraíso, volveu os olhos, buscando divisá-las. Estavam, porém, ocultas em meio às sombras. Quanto almejavam o alvorecer, pois somente ele traria consigo o paraíso!

Ante o anseio do coração humano, o Eterno surgiu em meio às trevas, devolvendo ao casal a alegria de se encontrar novamente num jardim colorido.

Banhados em suave luz, caminhavam agora por prados verdejantes e floridos. O brilho do Criador despertava a natureza por onde passavam, colorindo e alegrando tudo em derredor. O casal, admirado, aprendeu que ao lado do Eterno poderiam ter um paraíso em plena noite.

Sentindo-se sonolentos, Adão e Eva recostaram-se no colo do amoroso Pai, que os faz adormecer docemente, esperançosos de um despertar feliz. Deitando-os sobre a relva macia, o Eterno elevou-Se indo para junto das hostes contemplativas. Voltaria a manifestar-Se ao alvorecer, fazendo o casal despertar para o mais solene acontecimento, que reduziria a pó as vis acusações dos inimigos.

A noite escura e fria, através de suas longas horas, parecia zombar da luz. Ofuscaria para sempre as belezas da criação? Oh, jamais! O sol não recuaria ante a imponência das trevas; surgiria em breve como um libertador, arrebatando com seus cálidos raios a natureza das frias garras, dando-lhe vida e cor.

Num último desafio, as trevas tornaram-se densas nas horas que antecederam o alvorecer. A noite arregimentava suas forças para lutar pelo domínio usurpado.

Finalmente, surgiu no leste um lampejo que parecia falar de esperança em um novo dia. O céu aos poucos tornou-se colorido de um vermelho vivo. As trevas impotentes recuaram ante a força crescente da luz e foram consumidas em sua fuga. A natureza começou a despertar da longa noite, refletindo em seu seio os saudosos raios. Flores abriram-se, exalando perfumes de alegria; animais e aves, silenciados pela noite, uniram as vozes num cântico triunfal em saudação ao alvorecer daquele dia grandioso. A negra noite chegara ao fim, dando lugar à luz do dia sonhado - dia que para Deus tinha um sentido especial, pois prefigurava a final vitória de Seu reino sobre o domínio da rebeldia.

O Eterno agora despertaria Seus filhos humanos que, banhados pela luz de Sua presença, haviam adormecido na esperança de um alvorecer feliz. Numa marcha festiva, todas as hostes santas, com cânticos de vitória, acompanharam-nO rumo ao paraíso banhado em luz. Quando já estavam próximos, o Criador deteve-Se contemplando o casal adormecido, e exclamou suavemente: "Acordem meus filhos." Sua voz penetrou nos ouvidos de Adão e Eva, despertando-os para a mais feliz comunhão. Quão depressa raiara a acalentada manhã, trazendo em sua luz o doce paraíso, perdido naquela noite! Com alegria o casal saudou o divino Criador, unindo-se aos anjos em antífonas triunfais.

O Universo vivia um momento deveras solene. Naquela manhã festiva, o Eterno haveria de revelar a grandeza de Seu caráter, que é justiça e amor. As acusações de que Seu governo era de egoísmo e tirania seriam refutadas.

Aos olhos de todas as criaturas racionais do vasto Universo, Deus conduziu o jovem casal ao monte Sião, lugar do divino trono. Ali, ante o estremecimento das hostes emudecidas, o Criador, num gesto surpreendente, cobriu o homem com o manto real, colocando sobre sua cabeça a coroa que fora cobiçada por Lúcifer.

Movidos por profunda gratidão pela suprema honra conferida, Adão e Eva prostraram-se reverentes, depondo aos pés do Criador sua coroa preciosa, em sinal de submissão. Seguiu-se a esse gesto humano um brado de vitória que sacudiu toda a Criação. Os filhos da luz, que por tanto tempo haviam sofrido afrontas e humilhações ante as constantes acusações das hostes rebeldes, exaltaram em retumbante louvor o Deus bendito, que em Sua obra de justiça desmentira os inimigos, revelando Seu caráter de humildade, desprendimento e amor.

Tendo constituído o homem como o senhor de toda a criação, o Eterno, com voz solene, passou a conscientizá-lo da grandiosidade de sua missão. Como um guardião, deveria cuidar do paraíso, mantendo límpida a fonte do rio da vida. As leis da justiça e do amor, fundamentos do reino da luz, deveriam ser honradas. Como um cetro racional, caberia ao homem, em gesto de reconhecimento e gratidão, aceitar livremente o governo d'Aquele que o criou.

As hostes, que maravilhadas testemunhavam a revelação do desprendimento divino, compreenderam que o Senhor da Luz não governaria mais o Universo, a não ser com o consentimento humano. O homem, pela vontade do Eterno, fora feito o árbitro da criação; em seu glorioso ser, feito à imagem do Criador, resplandecia o selo do eterno domínio.

Após revelar ao casal a infinita honra e responsabilidade de sua missão, o Criador conscientizou-o do conflito espiritual que se travava pela conquista do domínio universal: Lúcifer, que por incontáveis eras servira ao divino Rei em Sião, havia sido corrompido pelo orgulho e pelo egoísmo, sendo seguido por um terço das hostes racionais; buscavam agora destronar o Eterno, desonrando-O com vis acusações.

Tendo revelado ao ser humano a dolorosa situação em que o Universo se encontrava, o Eterno, num gesto solene, mostrou-lhe duas altaneiras árvores que, carregadas de grandes frutos, se erguiam em ambas as margens do rio que nascia do trono. A que se elevava à direita revelou o Senhor ser a árvore da vida monumento do reino da luz. A que se erguia à outra margem revelou ser a árvore da ciência do bem e do mal - símbolo da rebeldia.

Comendo do fruto da árvore da vida, o homem manifestaria sua submissão ao Criador, que é Fonte de vida e luz. Comer da outra árvore seria entregar ao inimigo o domínio de Sião. O inevitável resultado desse passo seria a morte eterna, não somente para o ser humano, mas para toda a criação, que se reduziria ao caos sob a fúria da rebeldia.

Após contemplar demoradamente as duas altaneiras árvores, que externavam em seus frutos tão infinita responsabilidade, Adão prostrou-se ante o Criador, dizendo: "Digno és Senhor de reinar sobre o Universo, pois pela Tua sabedoria, amor e poder todas as coisas foram criadas e subsistem."

O sábado, emblema do triunfo divino, encheu-se de louvor. Todos os filhos da luz uniram-se ao ser humano no mais harmonioso cântico de exaltação Àquele cuja grandeza é sem par.

Foi com espanto que Satã e seus seguidores testemunharam a grandiosa realização do Eterno. Presenciaram com amargura a alegria dos fiéis ante a coroação do homem- acontecimento que lançara por terra as fortes acusações que eles haviam levantado contra o governo divino. Cheios de frustração e ira, consideravam agora sua triste condição. Quão terrível e humilhante era-lhes o pensamento de verem seus planos de rebeldia desfazerem-se diante do Criador, semelhantes às sombras daquela noite. Se pudessem, pensavam, encheriam o sábado de trevas, banindo da mente dos súditos do Eterno qualquer esperança de vitória.

Finalmente, em suas considerações, Satã e seus liderados compreenderam que lhes restava uma oportunidade: no meio do jardim do Éden, nas alturas de Sião, elevava-se, junto ao rio da vida, a árvore da ciência do bem e do mal.

Bastaria um gesto humano, nada mais, e teriam sob seu poder, para sempre, o domínio cobiçado. Mas como seduzi-lo?

Animado ante a perspectiva de uma conquista, Satã procurou, com engenhosidade, arquitetar um plano de abordagem. Sabia que, se falhasse em sua tentativa, todas as esperanças de triunfo ter-se-iam diluído, desfazendo-se todos os seus sonhos de aventura. Concluiu que o engano haveria de ser sua poderosa arma. Não fora através dele que conseguira dominar um terço das hostes celestes?! Aguardaria, portanto, um momento propício para armar sua cilada.”

Leia Mais ►

GANÂNCIA EXACERBADA

Rua 25 de Março, SP.JPGVariações de até 440% é a diferença dos preços de medicamentos praticados em algumas farmácias cearenses, noticiou no dia 19/02/10, a TV Verdes Mares em seu telejornal noturno, numa pesquisa realizada pelo PROCOM. Na mesma noite, o JN da Globo fez alusão à mesma matéria e as diferenças logo se evidenciaram, o que demonstra o descaso da fiscalização, (quando há), que além de escassa é ineficiente.

As farmácias e o comércio de um modo geral, em todo o Brasil, são regidos por normas particulares de seus proprietários que impõem suas tabelas, ditando suas próprias regras e que nunca levam em conta a saúde do bolso do consumidor, o qual arca com todas as despesas e os órgãos reguladores, além de inoperantes, são por vezes até coniventes, porque nunca negam um reajuste aos laboratórios sempre ávidos por uma majoração nos preços de seus produtos.

A invenção dos medicamentos genéricos pode até ter sido uma boa idéia, porém, é pouco provável que tenhamos bons fármacos e não me venham com a conversa de que o princípio ativo dessas meisinhas é o mesmo dos produtos de marca, porque não faz sentido. Pode até ter o mesmo princípio ativo, mas, quanto ao teor, o grau de pureza destes compostos eu duvido que seja o mesmo, notadamente se for fabricado pelos nossos laboratórios ou pelos de fora, para ser vendido no nosso mercado. Tanto é que tem médico que, quando das suas prescrições, aconselha que se compre o remédio mais caro posto que o genérico é mais fraco.

Por outro lado, o comércio, em sua maior parte, vive a explorar o comprador que se deixa embair por campanhas publicitárias enganosas, anúncios chamativos e muito bem elaborados por profissionais versados na arte de iludir, prestidigitadores exímios na camuflagem mercadológica, capazes de fazer corar de inveja a qualquer prestímano.

Um dos exemplos que pode ser pode ser citado é o do quebrado “99”. Partindo do princípio de que 99 não é 100, inscrevem-no em suas pseudo ofertas como chamariz daqueles quedados à avareza, que supõem estar economizando alguma coisa e que no final não tiram proveito nenhum, pois, quem ganha mesmo é o comerciante esperto – e como! -, que lucra sem sonegar, sem a necessidade de declarar o centavo do troco, porque nunca devolve e se devolvesse ninguém receberia porque não compra nada mesmo, só faz volume. Mas, no final das contas, como a galinha que comendo de grão em grão enche o papo, estes também lavam a égua no apurado gratuito que não sai por menos R$ 1000,00 por mês.

Outro tipo condenável de embromação é o da garantia das ferragens hidráulicas ou metais sanitários, como alguns modelos de torneiras que tem cinco ou mais anos de penhor. Entretanto, quando em conversa com um vendedor este me afirmou que a garantia era apenas para o cromado e não da peça e do mecanismo em si. Não nos importa se a ferragem perca o brilho, que desbote, desde que funcione sem defeito, já é muito bom!

A propaganda enganosa virou mania generalizada em todos os seguimentos do mercado brasileiro, do graúdo ao pequeno. Os descontos estão todos embutidos no preço final do produto, inclusive o que eles pagam pelo uso das máquinas dos cartões de crédito, porque não existe ninguém com tanto desprendimento para dar descontos que variam de 10% a 50%, somente para se fazer de bonzinho. Pelo contrário. Se eles pudessem tirar os últimos centavos do bolso do freguês, não hesitariam em fazê-lo.

antromsil

Leia Mais ►

EVANGELHOS APÓCRIFOS - Continuação

NOTA: Os textos apresentados nessa secção foram divididos para melhor compreensão da leitura, pois, alguns tem diversos capítulos e, por serem muito extensos, serão postados sucessivamente.

“EVANGELHOS DO MAR MORTO

PSEUDO-EPÍGRAFO DE GÊNESIS

LIVRO DE MELQUISEDEQUE

Antes que existisse uma estrela a brilhar, antes que houvesse anjos a cantar, já havia um céu, o lar do Eterno, o único Deus.

Perfeito em sabedoria, amor e glória, viveu o Eterno uma eternidade, antes de concretizar o Seu lindo sonho, na criação do Universo.

Os incontáveis seres que compõem a criação foram, todos, idealizados com muito carinho. Desde o íntimo átomo às gigantescas galáxias, tudo mereceu Sua suprema atenção.

Movendo-Se com majestade, iniciou Sua obra de criação. Suas mãos moldaram primeiramente um mundo de luz, e sobre ele uma montanha fulgurante sobre a qual estaria para sempre firmado o trono do Universo. Ao monte sagrado Deus denominou: Sião.

Da base do trono, o Eterno fez jorrar um rio cristalino, para representar a vida que d'Ele fluiria para todas as criaturas.

Como sala do trono, criou um lindo paraíso que se estendia por centenas de quilômetros ao redor do monte Sião. Ao paraíso denominou: Éden.

Ao sul do paraíso, em ambas as margens do rio da vida, foram edificadas numerosas mansões adornadas de pedras preciosas, que se destinavam aos anjos, os ministros do reino da luz.

Circundando o Éden e as mansões angelicais, construiu Deus uma muralha de jaspe luzente, ao longo da qual podiam ser vistos grandes portais de pérolas.

Com alegria, o Eterno contemplou a Capital sonhada. Carinhosamente, o grande Arquiteto a denominou: Jerusalém, a Cidade da Paz.

Deus estava para trazer à existência a primeira criatura racional. Seria um anjo glorioso, de todos o mais honrado. Adornado pelo brilho das pedras preciosas, esse anjo viveria sobre o monte Sião, como representante do Rei dos reis diante do Universo.

Com muito amor, o Criador passou a modelar o primogênito dos anjos. Toda sabedoria aplicou ao formá-lo, fazendo-o perfeito. Com ternura concedeu-lhe a vida; o formoso anjo, como que despertando de um profundo sono, abriu os olhos e contemplou a face de seu Autor.

Com alegria, o Eterno mostrou-lhe as belezas do paraíso, falando-lhe de Seus planos, que começavam a se concretizar.

Ao ser conduzido ao lugar de sua morada, junto ao trono, o príncipe dos anjos ficou agradecido e, com voz melodiosa, entoou seu primeiro cântico de louvor.

Das alturas de Sião, descortinava-se, aos olhos do formoso anjo, Jerusalém em sua vastidão e esplendor. O rio da vida, ao deslizar sereno em meio à Cidade, assemelhava-se a uma larga avenida, espelhando as belezas do jardim do Éden e das mansões angelicais.

Envolvendo o primogênito dos anjos com Seu manto de luz, o Eterno passou a falar-lhe dos princípios que haveriam de reger o reino universal. Leis físicas e morais deveriam ser respeitadas em toda a extensão do governo divino.

As leis morais resumiam-se em dois princípios básicos: amar a Deus sobre todas as coisas e viver na fraternidade com todas as criaturas. Cada criatura racional deveria ser um canal por meio do qual o Eterno pudesse jorrar aos outros vida e luz. Dessa forma, o Universo cresceria em harmonia, felicidade e paz.

Depois de revelar ao formoso anjo as leis de Seu governo, o Eterno confiou-lhe uma missão de grande responsabilidade: seria o protetor daquelas leis, devendo honrá-las e revelá-las ao Universo prestes a ser criado.

Com o coração transbordante de amor a Deus e aos semelhantes, caber-lhe-ia ser um modelo de perfeição: seria Lúcifer, o portador da luz.

O príncipe dos anjos, agradecido por tudo, prostrou-se ante o amoroso Rei, prometendo-Lhe eterna fidelidade.

O Eterno continuou Sua obra de criação, trazendo à existência inumeráveis hostes de anjos, os ministros do reino da luz. A Cidade Santa ficou povoada por essas criaturas radiantes que, felizes e gratas, uniam as vozes em belíssimos cânticos de louvor ao Criador.

Deus traria agora à existência o Universo que, repleto de vida, giraria em torno de Seu trono firmado em Sião. Acompanhado por Seus ministros, partiu para a grandiosa realização.

Depois de contemplar o vazio imenso, o Eterno ergueu as poderosas mãos, ordenando a materialização das multiformes maravilhas que haveriam de compor o Cosmo. Sua ordem, qual trovão, ecoou por todas as partes, fazendo surgir, como que por encanto, galáxias sem conta, repletas de mundos e sóis - paraísos de vida e alegria -, tudo girando harmoniosamente em torno do monte Sião.

Ao presenciarem tão grande feito do supremo Rei, as hostes angelicais prostraram-se, fazendo ecoar pelo espaço iluminado um cântico de triunfo, em saudação à vida. Todo o Universo uniu-se nesse cântico de gratidão, em promessa de eterna fidelidade ao Criador.

Guiados pelo Eterno, os anjos passaram a conhecer as riquezas do Universo. Nessa excursão sideral, ficaram admirados ante a vastidão do reino da luz. Por todas as partes encontravam mundos habitados por criaturas felizes que os recebiam em festa. Os anjos saudavam-nos com cânticos que falavam das boas novas daquele reino de paz.

Tão preciosa como a vida, a liberdade de escolha, através da qual as criaturas poderiam demonstrar seu amor ao Criador, exigia um teste de fidelidade. Com o propósito de revelá-lo, o Eterno conduziu as hostes por entre o espaço iluminado, até se aproximarem de um abismo de trevas que contrastava com o imenso brilho das galáxias. Ao longe, esse abismo revelara-se insignificante aos olhos dos anjos, como um pontinho sem luz; mas à medida de sua aproximação, mostrou-se em sua enormidade. O Criador, que a cada passo revelava aos anjos os mistérios de Seu reino, ficou ali silencioso, como que guardando para Si um segredo. As trevas daquele abismo consistiam no teste da fidelidade. Voltando-Se para as hostes, o Eterno solenemente afirmou:

-"Todos os tesouros da luz estarão abertos ao vosso conhecimento, menos os segredos ocultos pelas trevas. Sois livres para me servirem ou não. Amando a luz estareis ligados à Fonte da Vida".

Com estas palavras, fez Deus separação entre a luz e as trevas, o bem e o mal. O Universo era livre para escolher seu destino.

Envangelhos do Mar Morto

Pseudo-Epígrafo de Gênesis

Livro de Melquisedeque

A Criação do Universo II

O tão acalentado sonho do Criador se concretizara. Agora, como Pai carinhoso, conduzia as criaturas através de uma eternidade de harmonia e paz. Em virtude do cumprimento das leis divinas, o Universo expandia-se em felicidade e glória.

Havia um forte elo de amor, que a todos unia fortemente. Os seres racionais, dotados da capacidade de um desenvolvimento infinito, encontravam indizível prazer em aprender os inesgotáveis tesouros da Sabedoria divina, transmitindo-os aos semelhantes. Eram como canais por meio dos quais a Fonte da Eterna Vida nutria a todos de amor e luz.

Em Jerusalém, os ministros do reino reuniam-se ante o soberano Rei, sempre prontos a cumprir os Seus propósitos. Era através de Lúcifer que o Eterno tornava manifesto os Seus desígnios. Depois de receber uma nova revelação, ele prontamente a transmitia às hostes angelicais. Estas, por sua vez, a compartilhavam com a criação. Em célere vôo os anjos rumavam para as terras planetas capitais, onde, em grandes assembléias, reuniam-se os representantes dos demais mundos.

Em muitas dessas assembléias, Lúcifer fazia-se presente, enchendo os participantes de alegria e admiração.

Perfeito em todas as virtudes, ele os cativava com sua simpatia. Nenhum outro anjo conseguia revelar como ele os mistérios do amor do Eterno.

O Universo, alimentando-se da Fonte da Vida, expandia-se numa eternidade de perfeita paz. A obediência às leis divinas era o fundamento de todo progresso e felicidade. Ainda que conscientes do livre-arbítrio, jamais subira ao coração de qualquer criatura o desejo de se afastar do Criador. Assim foi por muito tempo, até que tal problema irrompeu na vida daquele que era o mais íntimo do Eterno.

Lúcifer, que dedicara sua vida ao conhecimento dos mistérios da luz, sentiu-se aos poucos atraído pelas trevas.

O Rei do Universo, aos olhos de quem nada pode ser encoberto, acompanhou com tristeza os seus passos no caminho descendente que leva à morte.

A princípio, uma pequena curiosidade levou Lúcifer a se aproximar daquele abismo profundo. Contemplando-o, ele começou a indagar o porquê de não poder compreender o seu enigma. Retornando a seu lugar de honra, junto ao trono, prostrou-se ante o divino Rei, suplicando-Lhe:

- Pai, dá-me a conhecer os segredos das trevas, assim como me revelas a luz.

Ante o pedido do formoso anjo, o Eterno, com voz expressiva de tristeza, disse-lhe:

- Meu filho, você foi criado para a luz, que é vida.

Convencendo-se de que o Criador não lhe revelaria os tesouros das trevas, Lúcifer decidiu compreender por si mesmo o enigma. Julgava-se capacitado para tanto. Só Deus sabia o que se passava no coração de Lúcifer. O anjo, que fora criado para ser o portador da luz, estava divorciando-se em pensamentos do bondoso Criador que, num esforço de impedir o desastre, rogava-lhe permanecer a Seu lado.

Uma tremenda luta passou a travar-se em seu íntimo. O desejo de conhecer o sentido das trevas era imenso, contudo, os rogos daquele amoroso Pai, a quem não queria também perder, o torturavam. Vendo o sofrimento que sua atitude causava ao Criador, às vezes demonstrava arrependimento, mas voltava a cair.

Antes de criar o Universo, Deus já previra a possibilidade de uma rebelião. O risco de conceder liberdade às criaturas era imenso, mas, sem este dom, a vida não teria sentido. Ele queria que a obediência fosse fruto de reconhecimento e amor, por isso decidiu correr o grande risco.

Ainda que prosseguisse na busca do sentido das trevas, Lúcifer não pretendia abandonar a luz. Esforçava-se para chegar a uma combinação entre essas partes que, no reino do Eterno, coexistiam separadas. Finalmente, com um sentimento de exaltação, concebeu uma teoria enganosa, que pretendia apresentar ao Universo como um novo sistema de governo, superior ao governar do Eterno. Denominou sua Lei "a ciência do bem e do mal".

Estruturada na lógica, a ciência do bem e do mal revelou-se atraente aos olhos de Lúcifer, parecendo descerrar um sentido de vida superior àquele oferecido pelo Criador, cujo reino possibilitava unicamente o conhecimento experimental do bem. No novo sistema, haveria equilíbrio entre o bem e o mal, entre o amor e o egoísmo, entre a luz e as trevas.

Ao longo do tempo em que amadurecera em sua mente a ciência do bem e do mal, Lúcifer soube guardar segredo diante do Universo. Continuava em seu posto de honra, cumprindo a função de Portador da Luz. Contudo, por mais que procurasse fingir, seu semblante já não revelava alegria em servir ao Eterno.”

Leia Mais ►

A SUPREMACIA NUCLEAR

Numa atitude de extremo egoísmo, os países detentores de tecnologia nuclear, que dominam o conhecimento da fusão ou fissão atômicas, pretendendem impor limites aos aspirantes emergentes, aqueles que, a duras penas, aprofundam suas pesquisas isoladamente, posto que as potências mundiais não disponibilizam nenhuma espécie de ajuda, alguma informação preciosa, por pequena que seja. Não, eles as escondem por baixo de sete chaves e quem quiser que “se vire”!

Ora, a ninguém é permitido possuir armas nucleares, a não ser eles, os grandes, os portentosos “donos do mundo”, como se a eles fosse dado o poder de policiar o globo terrestre por uma autoridade Suprema e qualquer tentativa, mesmo desprentensiosa, de uma outra nação interessada em adquirir este tipo de conhecimento, é logo entendida como aspiração arrogante, como uma potencial ameaça à paz mundial. Mas, no fundo, estes é que se sentem ameaçados de perderem o absolutismo da sua supremacia, porque é compreensível que quem esteja no comando não o quer ceder a quem quer que seja.

Evidentemente que todos querem ser respeitados e reconhecidos pelas nações da Terra, que existem governos pacíficos e belicosos, que há homens bons e maus nas direções desses governos e que tembém não se conhece as suas intensões, mas daí a acreditar que todos são perigosos é outra estória. Mesmo que alguns deste sejam virtualmente nocivos, não temos o direito de impedí-los de, por moto próprio, descobrirem os segredos tecnológicos mais recôntidos da ciência humana.

Eu, sinceramente, acho pura hipocrisia, falsa modéstia, apontar os erros dos outros com o dedo sujo, quando este está lambusado até à mão, pois, se querem livrar o mundo de ameaças, por que não destroem eles mesmos os seus arsenais belígeros, os quais estão abarrotados de toda espécie de armas destrutivas, que ultrapassa o poder da imaginação do mais notável visionário? Isto é ser inconvenientemente convencido de que é o tal, que é “o cara” e ninguém pode lhe desbancar.

Aqueles que assim agem estão longe de almejar a paz e a harmonia planetárias. Desejam sim, entravar o progresso científico desses povos que procuram o desenvolvimento tecnológico que lhes falta. Querem outrossim, mostrar que são durões, que estão preparados para reagir ao mais leve toque nos seus sensíveis brios, qualquer suposta insinuação de ofensa. E isso sem acrescentar as intromissões descabidas em assuntos internos de outras nações, as compras de briga, etc., como sói acontecer.

O homem terráquio ainda está longe de atingir a plenitude do bom uso da razão, até porque ainda é muito imperfeito e atualmente se encontra no limiar do conhecimento. Serão necessários mais alguns séculos e quiça, milênios para que sofra o buliramento de que carece para adquirir o brilho das virtudes.

Leia Mais ►

EVANGELHOS APÓCRIFOS

"O PROTO-EVANGELHO DE TIAGO

INTRODUÇÃO

Este "Proto-Evangelho de Tiago", também conhecido como "Livro de Tiago" ou, ainda, "A Natividade de Maria", tem sua autoria atualmente tida como desconhecida, embora o autor se identifique como Tiago, provavelmente para oferecer um certo grau de credibilidade ao seu escrito. Trata-se de um texto chamado de apócrifo, não incluído pela Igreja no Cânon das Escrituras autênticas e divinamente, que até hoje não foi explicado adequadamente. Se inspirados ou não, são relatos dos primeiros tempos do Cristianismo, importantes para quem deseja conhecer a fundo essa religião. Os críticos, porém, não concordam que esta obra tenha como autor um judeu em virtude do desconhecimento que o autor parece ter da religião judaica.
A data de composição é tão discutida quanto a sua autoria, variando de 60 dC até o fins do séc. II. Boa parte dos estudiosos crê que a obra tenha surgido antes mesmo dos Evangelhos canônicos de Mateus, Marcos, Lucas e João inspiradas (servindo, em muitos aspectos, como base para estes), motivo pelo qual, a partir do séc. XVI, passaram a chamar a obra de "Proto-Evangelho", isto é, "primeiro Evangelho".

Seja como for, o fato é que teve grande estima entre os primeiros cristãos, incluindo grandes
figuras eclesiásticas como Clemente de Alexandria, Orígenes, São Justino e Santo Epifânio.
Também notável foi sua contribuição para a Mariologia e a liturgia da Igreja.

A obra seinicia com o nascimento de Maria Santíssima, sua consagração no Templo, o casamento com José, a concepção de Jesus, a visita dos Reis Magos e a perseguição e matança das crianças inocentes.

Alguns pontos chamam a atenção:

• os nomes dos pais de Maria: Joaquim e Ana; esta é estéril;
• Maria é consagrada ao Templo aos 3 anos de idade e lá fica até completar os 12 anos;
• José é então escolhido para ser o esposo de Maria, por ser viúvo, embora fosse velho e tivesse seis filhos: Judas, Josetos, Tiago, Simão, Lígia e Lídia (cf. Mc 6,3 e paralelos);
• a anunciação feita por Gabriel é extremamente semelhante ao que lemos em Mateus e Lucas, embora possua maior riqueza de detalhes; o mesmo se pode dizer do episódio em que Maria
visita sua parente Isabel;
• em virtude de sua gravidez inesperada, é interpelada, juntamente com José, pelos representantes do Templo;
• indo para Belém, terra de José, por ocasião do censo, Maria vem dar à luz ao seu Filho em uma caverna e uma parteira é chamada para os serviços de parto; para espanto da parteira, Maria permanece virgem mesmo após o parto de Jesus;
• a visita dos Magos também segue próxima ao Evangelho de Mateus;
• por fim, quando Herodes manda matar as crianças, Zacarias, pai de João Batista, é assassinado no Templo, acusado de ter escondido seu filho, que também contava com poucos meses de idade.
Estes textos retratam os acontecimentos que precederam o nascimento de Cristo, contando a história de Maria e da natividade.
I

Segundo narram as memórias das doze tribos de Israel, havia um homem muito rico, de nome Joaquim, que fazia suas oferendas em quantidade dobrada, dizendo:
- O que sobra, ofereça-o para todo o povoado e o devido na expiação de meus pecados será para o Senhor, a fim de ganhar-lhe as boas graças.
Chegou a grande festa do Senhor, na qual os filhos de Israel devem oferecer seus donativos.
Rubem se pôs à frente de Joaquim, dizendo-lhe:
- Não te é lícito oferecer tuas dádivas, enquanto não tiveres gerado um rebento em Israel.
Joaquim mortificou-se tanto que se dirigiu aos arquivos de Israel, com intenção de consultar o censo genealógico e verificar se, porventura, teria sido ele o único que não havia tido prosperidade em seu povoado.
Examinando os pergaminhos, constatou que todos os justos haviam gerado descendentes.
Lembrou-se, por exemplo, de como o Senhor deu Isaac ao patriarca Abraão, em seus derradeiros anos de vida.
Joaquim ficou muito atormentado, não procurou sua mulher e se retirou para o deserto. Ali armou sua tenda e jejuou por quarenta dias e quarenta noites, dizendo:
- Não sairei daqui nem sequer para comer ou beber, até que não me visite o Senhor meu Deus. Que minhas preces me sirvam de comida e de bebida.

II

Ana lamentava-se e gemia dolorosamente, dizendo:
- Chorarei minha viuvez e minha esterilidade.
Chegou, porém, a grande festa do Senhor e disse-lhe Judite, sua criada:
- Até quando vais humilhar tua alma? Já é chegada a festa maior e não te é lícito entristecer-te.
Toma este lenço de cabeça, que me foi dado pela dona da tecelagem, já que não posso cingir-me com ele por ser eu de condição servil e levar ele ao selo real.
Disse Ana:
- Afasta-te de mim, pois que não fiz tal coisa e, além do mais, o Senhor já me humilhou em demasia para que eu o use. A não ser que algum malfeitor o haja dado e tenhas vindo para fazer-me também cúmplice do pecado.
Replicou Judite:
- Que motivo tenho eu para maldizer-te, se o Senhor já te amaldiçoou não te dando fruto de Israel?
Ana, ainda que profundamente triste, despiu suas vestes de luto, cingiu-se com um toucado, vestiu suas roupas de bodas e desceu, na hora nona, ao jardim para passear. Ali viu um loureiro, assentou-se à sua sombra e orou ao Senhor, dizendo:
- Ó Deus de nossos pais! Ouve-me e bendize-me da maneira que bendisseste o ventre de Sara, dando-lhe como filho Isaac!

III

Tendo elevado seus olhos aos céus, viu um ninho de passarinhos no loureiro e novamente lamentou-se dizendo:
- Ai de mim! Por que nasci e em que hora fui concebida? Vim ao mundo para ser como terra maldita entre os filhos de Israel. Estes me cumularam de injúrias e me escorraçaram do templo de Deus. Ai de mim! A quem me assemelho eu? Não às aves do céu, pois elas são fecundas em tua presença, Senhor. Ai de mim! A quem me pareço eu? Não às bestas da terra, pois que até esses animais irracionais são prolíficos ante teus olhos, Senhor. Ai de mim! A quem me posso comparar? Nem sequer a estas águas, porque até elas são férteis diante de ti, Senhor. Ai de mim!
A quem me igualo eu? Nem sequer a esta terra, porque ela também é fecundada, dando seus frutos na ocasião própria e te bendiz, Senhor.
IV
Eis que se lhe apresentou o anjo de Deus, dizendo-lhe:
- Ana, Ana, o Senhor escutou teus rogos! Conceberás e darás à luz e de tua prole se falará em todo o mundo.
Ana respondeu:
- Viva o Senhor meu Deus, que, se chegar a ter algum fruto de bênção, seja menino ou menina, levá-lo-ei como oferenda ao Senhor e estará a seu serviço todos os dias de sua vida.
Então vieram a ela dois mensageiros com este recado:
- Joaquim, teu marido, está de volta com seus rebanhos, pois que um anjo de Deus desceu até ele e lhe disse que o Senhor escutou seus rogos e que Ana, sua mulher, vai conceber em seu ventre.
Tendo saído Joaquim, mandou que seus pastores lhe trouxessem dez ovelhas sem mancha.
Disse ele:
- Estas serão para o Senhor.
Mandou, então separar doze novilhas de leite, dizendo:
- Estas serão para os sacerdotes e para o sinédrio.
Finalmente, mandou apartar cem cabritos para todo o povoado.
Ao chegar Joaquim com seus rebanhos, estava Ana à porta e, ao vê-lo chegar, pôs-se a correr e atirou-se ao seu pescoço dizendo:
- Agora vejo que Deus me bendisse copiosamente, pois, sendo viúva, deixo de sê-lo e, sendo estéril, vou conceber em meu ventre.
Então Joaquim repousou naquele dia em sua casa." (...)
Leia Mais ►

INQUISIÇÃO (O Início da Santa Inquisição) – parte 4

A Inquisição no Brasil

A história do Brasil, como a de outras nações está cheia de mitos e mentiras. Um desses mitos, no qual os brasileiros acreditaram durante gerações, foi de que não houve ação inquisitorial nem política racista no Brasil. Hoje sabemos que a Inquisição interferiu profundamente na vida colonial durante mais de dois séculos, atingiu as regiões mais distantes e perseguiu portugueses residentes no Brasil e brasileiros natos, do Amazonas até a colônia do Sacramento, e as leis racistas estão textualmente registradas na legislação portuguesas.

Inicialmente o trabalho árduo, com poucas recompensas imediatas, o perigo das viagens, a hostilidade dos índios, as doenças foram fatores que não estimularam a vinda de portugueses. Dom Manuel não sabendo o quê fazer com o Brasil, arrendou-o a um grupo de mercadores cristãos-novos, que foram os primeiros a explorar o país economicamente.

O regimento trazido por Tomé de Souza era bastante maleável e a vida familiar na colônia decorria sem interferência das autoridades nos comportamentos nem nos credos religiosos. Temos notícias de cristãos-novos que praticavam livremente o judaísmo em São Vicente na Primeira metade do século XVI.

Quando Felipe Segundo da Espanha incluiu Portugal entre seus domínios, em 1850, reforçou por razões políticas o tribunal da Inquisição, e a perseguição às heresias também se intensificou. As denúncias sobre as infrações religiosas na colônia chegavam ininterruptamente aos ouvidos dos inquisidores, assim como as notícias sobre a riqueza dos colonos. Agentes inquisitoriais foram enviados para o Brasil, visitadores, comissários e familiares, para investigar, prender os suspeitos de heresias. Perante o visitador são apresentadas as mais variadas heresias, feitiçarias, bruxarias, sodomia, bigamia, blasfêmias, desacatos, e os crimes de religião: judaísmo, luteranismo

Em 1593, terminando o seu trabalho na Bahia, o visitador passou para Pernambuco, onde recebeu as confissões e denunciações dos moradores. Aparecem mencionadas 62 pessoas, das quais 51 homens e 11 mulheres. Confessaram as seguintes culpas: blasfêmia 40, sodomia 6, bigamia 3, práticas judaizantes 4 e práticas luteranas 8.

Em 1618, a Inquisição mandou novamente um visitador para a Bahia. Compareceram perante ele no tempo da Graça 55 confidentes, a maioria era nascida em Portugal e tinham as mais diversas profissões. Confessaram: culpas de adultério 2, blasfêmia 12, comer carne na quaresma 2, comer antes da confissão 1, concordar com a prostituição 1, desacatar a missa 1, não fazer a comunhão 6, feitiçaria 5, heresia 2, judaísmo 5, ler livros proibidos 1, não deixar a mulher confessar 1, sodomia 13, culpa não declarada 1, e testemunhas de heresia 2. Em 1620 no segundo tempo da Graça, compareceram 7 confidentes, 6 homens e 1 mulher, cinco cristãos-velhos e dois cristãos-novos. Confessaram sodomia 3, feitiçaria 1, quebrar o juramento 1, blasfêmia 1, negar a validade de auto-de-fé 1. Trinta e sete denunciantes apresentaram-se nesse mesmo período na Bahia, 36 homens e 1 mulher. Os crimes denunciados foram: blasfêmia 6, adultérios 2, heresia 5, judaísmo 19, ler livros proibidos 3, sodomia 6, falar mal do Santo Ofício 1.

O provincial da Companhia de Jesus foi responsabilizado por uma Inquirição, mas se encontrando ausente foi auxiliado pelo clero local, que inquiriu 120 testemunhas, que denunciaram 85 judaizantes, 18 feiticeiros (4 homens e 14 mulheres) e 16 sometigos. Dos denunciados nessas visitações e inquirições, muitos foram presos. Alguns foram queimados, os judaizantes receberam principalmente a sentença de cárcere e hábito penitencial perpétuo, e os restantes, penas mais leves. A maior parte dos hereges brasileiros penitenciados no século XVII era da Bahia, então capital da colônia.

O auge de perseguições inquisitoriais no Brasil deu-se na primeira metade do século XVIII, quando a produção do ouro, dominava a economia colonial.

Na Paraíba, por exemplo, havia uma importante comunidade cristo-judia, constituída principalmente de haviadores de cana. Entre 1729 e 1736 a Inquisição prendeu 48 pessoas, que foram processadas em Lisboa, sendo uma das mulheres, Guiomar Nunes, queimada.

Interessante que praticamente a metade dos prisioneiros brasileiros critãos-novos no século XVIII era de mulheres, que representaram um importante papel na transmissão da heresia.

Investidas contínuas foram feitas pela Inquisição no correr do século, também em outras regiões menos prósperas. Como no Maranhão, em 1731 e no Pará, em 1763, houve uma visitação em que também sobressaíram as feitiçarias, blasfemos, curandeiros, sodomitas, bígamos, sendo ao todo implicados 485 pessoas.

Fenômeno curioso no Brasil foi o elevado número de membros do clero presos pela Inquisição. Podemos dizer que há uma longa tradição herética entre o clero brasileiro, que remonta aos tempos coloniais.

Espírito do Santo Ofício da Inquisição Continua

O Santo Ofício da Inquisição, que queimou Giordano Bruno e perseguiu Galil, denomina-se, hoje Sagrada Congregação para a doutrina da fé. Esta congregação tem acusado como hereges, advertido e punido numerosos teólogos contemporâneos, que têm questionado diferentes aspectos da doutrina católica e a infalibilidade da Igreja.

Os princípios teólogos ultimamente acusados de heresia foram: Edward Schillebeeckx, professor de teologia da Universidade Católica Nijmaegen, Holanda, e Hans Kung, professor de Dogma e Teologia Ecumênica da Universidade do Estado, Tubigen, Alemanha Ocidental.

Desde 1957 Hans Kung está em choque com o Vaticano, por ter posto em dúvida a inefabilidade da Igreja e criticado a debilidade da doutrina papal sobre o controle da natalidade. Chamado a Roma em 1971, para justificar as suas idéias, respondeu que só iria se pudesse ver todo o seu processo e escolher seus próprios advogados. A congregação recusou-se. Nessa atitude vemos a repetição do procedimento da Inquisição ibérica, onde os réus não tinham conhecimento do seu processo e os únicos advogados admitidos eram homens internos da Inquisição. Kung também foi punido por dizer que a ressurreição não podia ser um acontecimento histórico, a virgindade de Maria era uma lenda, que não se devia identificar Jesus com Deus e que Jesus nunca se intitulou Messias. O próprio papa João Paulo II, em 18 de dezembro de 1979, declarou que Hans Kung, nos seus escritos, afastou-se da verdade integral da fé católica e portanto não podia mais ser considerado um teólogo católico, nem atuar como tal num papel de professor.

Os pensadores religiosos estão divididos hoje, como estiveram divididos durante a Inquisição Ibérica

Considerações Finais

Por tudo que foi visto, podemos verificar as maldades feitas pela Inquisição. Como exemplo dessas maldades podemos citar as caças aos hereges (principalmente judeus, árabes, muçulmanos, negros), não podia ter outra religião que não fosse o catolicismo, eram presos, torturados, flagelados e principalmente queimados vivos em praça. Mas, a pior dor deixada pela Inquisição foi o empobrecimento cultural e econômico, que foram absorvidas por Portugal e Espanha, pois não puderam praticar estudos sobre física, biologia, medicina, agricultura, matemática. Já economicamente a burguesia, estava muito bem, por causa do desenvolvimento do capitalismo comercial que crescia cheio de dinamismo e criatividade, foi castrada pela Inquisição e pelo Estado. Conseqüentemente, isso também afetou o Brasil, pois naquele tempo o mesmo era colônia de Portugal e seguia todas as normas estabelecidas pela Inquisição.

A Inquisição durante muitos séculos conseguiu manter com a união da política e da religião, através de meios burocráticos o poder sobre as pessoas para não o livre arbítrio do pensamento na forma de estudos, críticas, descobertas, questionamento e religião.

A Ordem DeMolay é bela, grandiosa e abraça todo o mundo porque nela não existe distinção de cor, religião, política, classe social e nela também existe o respeito cultural e de pensamento.

Leia Mais ►

MATERIAL ESCOLAR

clip_image005Logo no princípio do ano, ocasião em que temos a maior leva de compromissos a cumprir e quando as nossas escassas reservas estão exauridas por conta das festas de fins de ano como Natal e Reveillon, temos que nos dispor a enfrentar uma maratona à cata do material escolar dos nossos rebentos se não quisermos incorrer no erro de criá-los ignaros.

É um corre-corre frenético de pais e mães de família na estafante busca por melhores preços e melhores condições de pagamento na seleção do material escolar de seus filhos, visto que os preços praticados pelo setor são sempre reajustados nesta passagem do ano.

Mas não é tarefa fácil encontrar preços que se encaixilhem nos seus parcos orçamentos, pois, sempre encontra óbices que lhe tolhem a escolha de todo o material necessário, tendo às vezes que abrir mão de alguns itens constantes da lista, não pelo fato de serem dispensáveis, mas por falta de dinheiro mesmo.

A coisa fica mais complicada quando a criança é impertinente e acompanha os pais na escolha do material, exigindo aquilo que está do seu gosto, mas que custa mais caro, azucrinando a paciência destes a ponto de os deixarem com os nervos em pandarecos.

Se pelo menos tivéssemos reajustes condizentes com a realidade em que vivemos, que fosse capaz de satisfazer todas as nossas reais necessidades, aquelas indispensáveis e que não podem ser consideradas supérfluas, seria muito bom.

Então eu conjeturo, quando será que as autoridades em educação tomarão medidas decisivas no sentido de dar melhores condições ao ensino público, com escolas de qualidade, onde o aluno tenha um aproveitamento ideal e o corpo docente seja honrosamente remunerado, escolas que sejam confiáveis, que não deixem margem para especulações? Quando irão disciplinar o funcionamento das escolas particulares que ditam as suas próprias regras em detrimento de todo um contingente de usuários que querem dar um ensino melhor a seus filhos; que reajustam abusivamente suas mensalidades e exigem coisas absurdas com cláusulas leoninas nas entrelinhas de seus contratos?

O que é solicitado hoje pelas escolas particulares é um disparate porque querem se eximir de suas próprias responsabilidades chegando a incluir na lista coisas que não tem nada a ver com o aprendizado do aluno, como por exemplo, lápis, borracha e caderno para crianças do maternal, papel higiênico, palitos para churrasco, copos descartáveis, álcool, material de limpeza a até prendedores de roupa dentre outros.

Alguns itens da lista nunca chegam a ser usados em sala de aula ou em qualquer situação, como já pude constatar e, como se não bastasse, durante o ano letivo todo mês tem festa ou data comemorativa para as quais os pais são obrigados contribuir. Pode? Não, mas acontece.

Pelo andar da carruagem ainda vai demorar um bom tempo para que minhas elucubrações se tornem realidade.

Leia Mais ►

BODE EXPIATÓRIO

Existem algumas coisas que nos tiram o sério, por mais equilibrados emocionalmente que sejamos e por mais esforço que façamos para manter a calma.

Alguns setores da imprensa - e principalmente a rede globo -, sempre que noticiam em seus veículos algum tipo de gasto excessivo por parte do governo, colocam em evidência as despesas feitas com o pagamento ou reajuste dos funcionários públicos, deixando transparecer que eles, com sua visão caótica e estrábica de lobrigar as reais causas, não nos vêem com bons olhos.

O funcionário público, que por eles é apontado como causa primária dos problemas de caixa do governo, é um trabalhador como outro qualquer, tão necessário quanto os demais porque a máquina administrativa da nação carece de mão-de-obra para servir ao público e por mais avançado tecnologicamente que o País esteja ainda não dispõe de robôs que os substituam em suas funções.

O funcionário público não pode ser inculpado pelos desmandos governamentais, pela má gerência dos responsáveis pelo dinheiro arrecadado pelo erário, cujo montante é composto de expressiva parcela de impostos paga pelos funcionários públicos. Diferente de outras categorias de trabalhadores, o funcionário já recebe seu salário com os descontos do imposto de renda ou outros tributos que por acaso venha a incidir, efetuados em seu contracheque, não havendo como sonegar. Todo imposto pago pelo trabalhador comum é também feito pelo funcionário público, que como este, tem família, filhos para educar, despesas a liquidar e compromissos a honrar.

O pior cego é aquele que não quer ver e esse tipo de gente é bastante comum entre nós, pois, indivíduos desse jaez são encontrados em todas as classes sociais, sendo que aí se enquadram aqueles que nos acusam de onerar os cofres públicos. Não enxergam, melhor dizendo, não querem bispar os verdadeiros responsáveis pelos defraudes, os espoliadores dos haveres do povo, personificados como lobos em velocino, os quais nem são mencionados em seus artigos.

Se vê então, a cada anúncio de reajuste para o servidor público a imolação deste, qual bode expiatório, para reparação dos pecados daqueles que deveriam ser de fato responsabilizados.

Leia Mais ►

INQUISIÇÃO - (O Início da Santa Inquisição) - Parte 3

"Santo Ofício da Inquisição em Portugal


Os portugueses de origem judaica perseguidos pela Inquisição espalharam-se pelos quatro cantos do mundo, levando seus costumes, religião, língua, alimentação, folclore, literatura, que preservaram durante séculos.

Pressionado politicamente, o sumo pontífice deixou-se convencer, e em 22 de agosto de 1681 o tribunal português reiniciou suas atividades. Desde então se intensificaram as perseguições e se realizaram autos-de-fé praticamente todos os anos.

Na revolução da Catalunha, em 1640 o próprio inquisidor sugeriu que o tribunal iniciasse um processo contra os rebeldes, e na guerra de Sucessão 1702 - 1714 a Inquisição ameaçou de censuras eclesiásticas os culpados de opiniões contrárias.

No que diz respeito a Inquisição portuguesa, sua implantação política também se revelou bem clara desde o seu estabelecimento. Quando o tribunal da Inquisição portuguesa entrou em funcionamento regular, as forças políticas e espirituais da nação estavam unidas: rei e inquisidor eram a mesma pessoa.

Apesar de todo o aparato religioso e da auréola divina com que o tribunal da Inquisição se revestiu apesar das funções "santas" que alegou, foi uma instituição vinculada ao Estado. Respondeu dos interesses das facções do poder: coroa, nobreza e clero. Infelizmente, depois da metade do século XVII, não temos monografias nem pesquisas suficientes sobre suas atividades comerciais em outras regiões, para podermos precisar a medida de sua importância no mundo financeiro europeu e internacional.

A Inquisição sempre esteve na pista dos homens de negócio. Para isto contava com um séquito de funcionários que atuavam como espiões, trazendo informações e denúncias de portugueses residentes nas colônias, na Holanda, em Hamburgo, na Itália, na França, em Londres, etc.

A limitação dos direitos dos descendentes de convertidos através da aplicação dos estatutos de pureza de sangue também foi uma tentativa da nobreza feudal de eliminar uma parte da burguesia os cristãos-novos que tinham criado força e aspiravam o domínio sobre o Estado. A Inquisição era uma ameaça permanente e servia-se de todos os pretextos para confiscar e perseguir os homens de negócios cristãos-novos. Durante a união com a Espanha a burguesia portuguesa enriqueceu e os cristãos-novos tiveram atuação importante como financistas da coroa espanhola. Depois de 1640 sofreu um declínio, e os estrangeiros ingleses, holandeses, alemães, franceses, estabelecidos em Lisboa e protegidos por diversos tratados, deram golpe mortal nos comerciantes nacionais.

Nesta época dois fatos interferiram no funcionamento da Inquisição portuguesa que levaram ao pronunciamento do Papa; um texto divulgado clandestinamente, e intitulado Notícias Recônditas, escrito por um notário da Inquisição, que delata os métodos, as injustiças, os crimes praticados pela Inquisição em Portugal, e a interferência de um jesuíta, o Padre Antônio Vieira, que, quando em Roma, ajudou a desmascarar a dita "cristianíssima e santa Inquisição".

Um suspeito podia ser preso a qualquer momento, sem saber o que se queria dele. Nunca ficava conhecendo o nome de quem o acusou, nem lhe era comunicado o motivo da prisão, nem o lugar em que havia cometido o crime de que era acusado, nem com que havia pecado. Com o tempo a Inquisição introduziu uma farsa, um advogado de defesa, mas este não podia examinar o processo, era escolhido pelos Inquisidores, sendo um funcionário do Tribunal.

Métodos de Ação do Tribunal

O Tribunal da Inquisição orientava-se, como já dissemos, por um Regimento Interno, onde estavam sistematizados as leis, jurisprudência, ordens e prazos a serem seguidos.

Os crimes julgados pelo Tribunal eram de duas naturezas: contra a fé, como judaísmo, protestantismo, luteranismo, deísmo, libertinismo, molinismo, maometismo, blasfêmias, desacatos, críticas aos dogmas; e contra a moral e os costumes, como bigamia, sodomia, feitiçaria etc, com toda sua série de modalidades, e que se misturavam com o campo religioso.
Os crimes contra a fé eram considerados mais graves do que os crimes contra os costumes e a moral, e as suas penas eram muito mais severas. Os réus acusados de crime contra a fé tinham quase sempre seus bens confiscados, enquanto os infratores dos costumes recebiam sentenças leves e raramente pena de morte.
A base sob a qual se apoiava a Inquisição era a denúncia. Aceitavam-se denúncias de qualquer categoria de pessoas e mesmo cartas anônimas. O crédito das testemunhas dependia exclusivamente do arbítrio dos inquisidores. "Ouvir dizer" e "suposições" também eram considerados provas.

Quando um indivíduo era denunciado, um funcionário da Inquisição ia a sua casa, acompanhado pelo juiz do fisco, que seqüestrava tudo que o suspeito possuía, antes mesmo de ter provas de sua culpa. Depois de prendê-lo, passava ferros e trancas nas portas da casa e ninguém mais podia entrar a não ser os funcionários da Inquisição. A família ficava na rua, sem abrigo, as crianças à mercê da caridade dos vizinhos, esperando que alguém as socorresse. Muitas vezes os filhos jamais reviam seus pais e famílias ficavam para sempre separadas, como aconteceram tantas vezes com os presos no Brasil. Outras vezes, a Inquisição mandava que se arrasasse a casa em que haviam morado o herege e sua família, para que não ficasse dele um sinal sobre a terra. Os descendentes de um penitenciado pela Inquisição eram considerados infames por várias gerações e impedidos de qualquer participação na sociedade.

Todo réu, para salvar-se, tinha de confessar-se culpado, e acusar as pessoas de sua intimidade: pais, irmãos, parentes, amigos. Se não denunciasse a família era considerado diminuto, isto é, estava escondendo culpados. Caso não mencionasse todos os nomes, a confissão era considerada incompleta. Nesse caso, mandavam-no para a câmara de tortura. Confuso, no desespero de querer salvar-se, o réu prometia denunciar mais, e acusava todas as pessoas que conhecia: amigos de infância, pais, filhos, irmãos, parentes etc. Uma testemunha era suficiente para justificar o envio para câmara do tormento. Quanto mais débil a evidência do crime, mais severa era a tortura. Em Lisboa se retalhavam, as plantas dos pés dos réus, untavam-se de manteiga e em seguida os submetiam ao calor de braseiro. O Regimento de 1640 estabeleceu dois tipos de tortura: o potro, uma espécie de cama de ripas onde o réu era amarrado pelos pulsos e pernas e, ao aperta-se um arrocho, cortavam-se-lhe as carnes; e, a polé, quando o réu era suspenso no teto pelos pés, deixando-o cair em seguida, sem tocar o chão. No potro, graduava-se o tormento, apertando um após outro os membros. Na polé levantava-se o condenado a alturas diferentes, até a roldana, repetindo-se as quedas. Esse tormento, muitas vezes , deixava os réus aleijados, e para maior hipocrisia perante a sociedade, os inquisidores mandavam que não fosse aplicado nos últimos quinze dias antes de o réu sair no auto-de-fé para que o povo não viesse as marcas deixadas pela tortura.

A pena de morte pela fogueira recebiam os réus que recusavam confessar-se culpados. Eram chamados contumazes, pois, negando, continuavam persistindo no crime. E também os relapsos, que, já tendo sido condenados, tornavam a pecar. Se no último momento, antes de se aplicar a pena de morte, o réu se dizia arrependido, e pedia para morrer na Lei de Cristo, era primeiramente estrangulado e depois atirado na fogueira. Se, porém, persistia em dizer que queria morrer na lei de Moisés, era queimado vivo. Os que fugiam eram queimados "em efígie", isto é, simbolicamente.

A flagelação era um castigo dos mais comuns. O indivíduo era açoitado através das ruas da cidade, despido até a cintura, muitas vezes montado num burro, enquanto as pessoas lhe atiravam pedras e detritos.

Os Autos de Fé

Durante o auto-de-fé, os réus ouviam suas sentenças. Os condenados a morrer na fogueira, depois da cerimônia eram transportados para o lugar onde se erguia o queimadeiro.

O auto-de-fé começava com a procissão seguida de uma missa. O sermão tinha uma importância toda especial, e o pregador era sempre escolhido entre os mais distinguidos membros do clero.

O auto-de-fé era celebrado com enorme pampa. Comparava-se a participação do povo com a promessa de que quem assistisse ao auto-de-fé ganhava quarenta dias de indulgência. O povo era avisado com um mês de antecedência.

Em Portugal e na Espanha a Inquisição converteu-se em um poderosíssimo Estado dentro do Estado. Houve tempos em que sua ação foi mais branda e houve períodos de enorme ferocidade. Avaliar com precisão quantas pessoas foram penitenciadas e condenadas pela Inquisição moderna na Espanha e em Portugal e suas colônias de ultramar é tarefa praticamente impossível.

O número de autos-de-fé em Portugal ainda não era conhecido. Oliveira Marques dá alguns que são também suposições. De 1543 a 1684 a Inquisição de Portugal queimou em autos-de-fé pelo menos 1379 pessoas, numa média de cento e trinta e seis por ano. De 1684 a 1747 foram sentenciadas 4672 pessoas e 146 foram queimadas. Na década de 1704 foram sentenciadas 1392 pessoas (cento e trinta e nove por ano) e 17 executadas. De 1724 a 1733 morreram 22 pessoas e 1070 foram condenadas. De 1734 a 1743 o número de execuções subiu a 51 e de 1750 a 1759, já no tempo do Marquês de Pombal, 18 foram queimadas e mais de mil foram penitenciadas. Segundo Cecil Roth, a Inquisição portuguesa processou quarenta mil pessoas, queimou mil oitocentos e oito (633 em efígie), condenou 29.590. A Inquisição de Goa processou 3800 pessoas em 82 autos-de-fé.

Desde o estabelecimento do tribunal da Espanha em 1480, até 1808, foram queimados 31.912 hereges (em efígie 17.659). Foram penitenciadas 291.450 pessoas, num total de 341.021. De 1780 até 1820 houve cerca de 5.000 processados.

Todos esses dados são aproximados e com o avanço das pesquisas devem ser renovados. Autores que procuram justificar a Inquisição refere-se aos números relativamente baixos de condenados, e dizem que os tribunais civis eram tão ou mais severos, e mataram mais gente."
Leia Mais ►