AS 40 RAZÕES CATÓLICAS E ESPÍRITAS Parte 1

200px-Genesis_in_a_Tamil_bible_from_1723 Nota: o artigo que se segue por ser muito extenso, publicarei por etapas para que não tome muito tempo do leitor. São 40 tópicos com supostas razões mal interpretadas e até falseadas às quais darei as devidas explicações.

Na edição 326, de 18/07/09 do Jornal Correio da Semana, na coluna Em dia com a Igreja, assinada pelo Rev. Pe. Valdery, foi publicado um artigo mostrando um quadro comparativo, as 40 razões pelas quais católico não pode ser espírita.

Nas elucidações que darei agora a respeito do que escreveu o autor das ditas razões, me absterei de dissertar sobre as razões católicas, por respeito à doutrina, ao clero e aos seus fiéis e também por não querer ferir suscetibilidades.

Entretanto, como espírita, cabe-me o dever de esclarecer algumas afirmações aleivosas sobre o Espiritismo, que pode ter sido estudado pelo autor das ditas 40 razões, mas que foi erroneamente interpretado e até conspurcado.

Pelo o que eu pude analisar, o irmão Boaventura pode ter sido um dos maiores críticos, mas não um profundo conhecedor da Doutrina Espírita, conforme mostrarei a seguir, com todo o respeito, que me desculpe o Padre Valdery, que me desculpe o também o autor, de saudosa memória, posto que falecido.

Abaixo, as razões escritas pelo Freire Boaventura Kloppenburg, conforme publicado no jornal:

“[...] O ESPÍRITA BEM INSTRUÍDO NA SUA DOUTRINA

1) Proclama que absolutamente não há mistérios e tudo o que a mente humana não pode compreender, é falso e deve ser rejeitado.

Eu diria que não é bem assim. Diria que o espírita bem instruído procura não dizer bobagens, não opinar sobre o que desconhece ou conhece superficialmente.

O que o Espiritismo afirma é que, o que entendemos hoje por mistério, são leis desconhecidas dos homens da atualidade e que um dia nos poderão ser reveladas pelas descobertas da ciência; não são conhecimentos ocultos, mas, conhecimentos que não somos capazes de assimilar devido ao nosso pouco adiantamento espiritual.

Precisamos evoluir em dois sentidos: o intelectual e o moral. Intelectualmente estamos indo relativamente bem, entretanto o lado moral que é o que melhor nos convém, encontra-se muito defasado, razão pela qual vivemos num ambiente conturbado, cheio de atribulações por culpa da nossa própria imprevidência, da nossa própria incúria.

Cabe, portanto, aos homens de ciência a tarefa de revelar, através de pesquisas e experiências, pelos métodos que melhor lhes convierem, todos os mistérios contidos em nosso mundo, porque é somente assim que a humanidade pode prosperar, através do esforço mental e do trabalho físico, porque nada se adquire gratuitamente.

Muitos são os exemplos que poderia dar a respeito do que afianço, mas citarei apenas o que tem como base a lenda sobre Diogo Álvares Correia, o Caramuru, que recebeu tal apelido ao afugentar os índios que queriam lhe devorar, matando um pássaro com um tiro de mosquetão.

Para os indígenas aquele foi um fato extraordinário, para eles, milagroso, por desconhecerem os princípios que motivaram aquela proeza. De que poderes seria dotado aquele homem?, diriam, razão pela qual, além de ser poupado da morte, foi reverenciado, chegando inclusive a casar-se com a filha do morubixaba.

2) Rejeita a possibilidade do milagre e dogmatiza que também Deus deve obedecer às leis da natureza.

Já foi dito e exemplificado, mas repetirei. Existem coisas desconhecidas, leis que o homem atual não é capaz de entender por não estar amadurecido espiritualmente. Vejamos o exemplo que se segue:

Uma tribo indígena brasileira, cujos membros nunca tiveram contato com o homem branco, foi mostrada, repetidas vezes, nos noticiários da televisão, correndo mata adentro e atirando flechas na aeronave que os assediava, para filmá-las mais de perto. Para aqueles aborígenes que possivelmente nunca tenham visto semelhante artefato, era uma besta apocalíptica à sua cata com o fim de exterminá-los. Por ignorância e por medo,- pois, o homem tem medo do ignoto,- tentaram fugir a qualquer custo.

Até onde eu estudei o Espiritismo, não encontrei a asseveração de que Deus deve se submeter às leis da natureza; sustentar tal afirmativa é acusar sem provas e digo mais, é uma leviandade. O que sabemos é que Deus criou leis imutáveis e eternas. Que Deus não derroga as suas leis. As Leis de Deus não são como as dos homens que mudam ao sabor das ondas do tempo e das suas necessidades e conveniências. Portanto, a declaração é falsa.

Outra coisa, não existe dogmas no Espiritismo Kardecista. Dogma é ponto fundamental e indiscutível duma doutrina religiosa, e, p. ext., de qualquer doutrina ou sistema. (Dic. Aurélio). O espiritismo não impõe nada a ninguém e deixa que o homem decida por si só o que é melhor para ele, que se utilize do seu livre arbítrio.

3) Declara que a Bíblia está cheia de erros e contradições e que nunca foi inspirada por Deus.

Que a Bíblia Sagrada não é tão sagrada como se afirma está mais do que claro e só não sabe disso quem não a leu ou lê.

Que ela contém erros a razão nos manda aceitar, até porque ela foi escrita por homens que, embora inspirados, não eram perfeitos. Que tem contradições, asseguro que sim e não são poucas. Os estudiosos calcularam que a Bíblia contém mais de duas mil contradições explícitas ou implícitas. Mostrarei apenas algumas delas, como se segue:

Antigo Testamento:

“Os Gigantes existiam antes da inundação (Gênesis 6:4).

Somente Noé, sua família, e os animais da Arca sobreviveram à inundação (Gênesis 7:23).

Mesmo depois da Inundação os gigantes continuaram existindo (Números 13:33).

Toda a terra tinha uma só língua e as mesmas palavras, até que Deus criou vários idiomas diferentes, fazendo com que ninguém entendesse um ao outro (Gênesis 11:1,6-9).

Anterior a isto, a Bíblia fala de diversas nações, cada um com sua própria língua (Gênesis 10:5).

Deus mata todos os animais dos egípcios com uma forte pestilência. Nenhum sobreviveu a pestilência (Êxodo 9:3-6).

Deus mata todos os animais dos egípcios com uma chuva de granizo (Mas eles já não haviam morrido com a pestilência?) (Êxodo 9:19-21,25).”

Novo Testamento:

“Jesus foi filho de José, que o foi de Jacob (Mateus 1:16).

Jesus foi filho de José, que o foi de Heli (Lucas 3:23).

O pai de Salathiel foi Jeconias (Mateus 1:12).

O pai de Salathiel foi Neri (Lucas 3:27)

Abiud é filho de Zorobabel (Mateus 1:13).

Resa é filho de Zorobabel (Lucas 3:27).

São citados os nomes de todos os filhos de Zorobabel, mas nem Resa e nem Abiud estão entre eles (I Crônicas 3:19-20).

Jorão era o pai de Ozias que era o pai de Joathão (Mateus 1:8-9).

Jorão era o pai de Occozias, do qual nasceu Joás, que gerou Amazias, que foi pai de Azarias que, finalmente, gerou Joathão (I Crônicas 3:11-12).

Josias era o pai de Jeconias (Mateus 1:11).

Josias era o avô de Jeconias (I Crônicas 3:15-16).

Zorobabel era filho de Salathiel (Mateus 1:12) (Lucas 3:27).

Zorobabel era filho de Fadaia. Salathiel era tio dele (I Crônicas 3:17-19).”

(In: http://www.deldebbio.com.br/index.php/2008/10/30/algumas-contradicoes-biblicas/)

A Bíblia que conhecemos foi escrita em épocas diferentes e originalmente não era agrupada em um só volume como hoje a admitimos, conforme o seguinte:

Alguns irmãos menos esclarecidos acham que se deve aceitar cegamente tudo que está escrito na Bíblia por acreditarem na sua infalibilidade. Porém, antes de esclarecermos alguns pontos mais polêmicos, façamos algumas apreciações embasadas na ótica da razão e do discernimento para não incorrermos em claudicação.

Em primeiro lugar, analisemos alguns pormenores de extrema importância para a elucidação de alguns fatos não muito bem explicados ao longo da história e que perduram até hoje na obscuridade. É o caso, por exemplo, das diversas traduções e das diferentes versões bíblicas que conhecemos.

Os fragmentos de texto que se seguem foram extraídos Bíblia Sagrada na versão portuguesa da Vulgata Latina traduzida pelo Pe. Antônio Pereira de Figueiredo.

A Versão dos Setenta e a Vulgata Latina

“Até o final do século IV, conhecia-se da Bíblia, a chamada Versão dos Setenta, também chamada de septuaginta assim denominada por ter sido confiada por Ptolomeu II, Filadelfo (309 a 246 a. C.) rei do Egito, a setenta e dois rabinos, seis de cada tribo, que a realizaram entre os anos de 285 a 247 a. C., na ilha de Faros, perto de Alexandria.” A Versão dos Setenta foi, portanto efetivada no antigo Testamento.

“Da Versão dos Setenta originou-se a Vulgata Latina, realizada em sua quase totalidade por São Jerônimo, doutor da Igreja (c. de 350-420), diretamente do hebraico, do aramaico e do grego, por incumbência de Damásio I, papa de 366 a 384. Em 386, São Jerônimo terminou a tradução do Novo Testamento, e, entre 391 e 405. a do Antigo Testamento. Em 1592, o papa Clemente VIII mandou fazer uma revisão da Vulgata Latina, e esse texto revisado é hoje de uso oficial na Igreja Latina.”

“Quase todos os livros da Bíblia foram escritos em hebraico. O aramaico é o idioma original de fragmentos do Antigo Testamento (Dan. 2, 4b-7, 28; Esd 4, 8, 6, 18; 7, 12-26; Jer. 10, 11), e, no Novo Testamento, de todo o Evangelho de Mateus. O grego foi usado para o livro da Sabedoria, Macabeus II e todo o Novo Testamento (com exceção do livro de Mateus).” (CIC)

Ora, como podemos perceber os livros bíblicos não estão compilados tal como foram escritos há séculos atrás. Foram três os idiomas originais, conforme o texto acima descrito. Fragmentos daqui, um pedacinho dali, e assim temos hoje uma amalgama de textos não integralmente escritos um após outro como supuséssemos que fosse. A isso, agreguem-se as constantes traduções, primeiro para o grego e latim e depois para mais de mil línguas e dialetos falados em todas as partes do mundo; e as revisões que também são inumeráveis.

Afora isto, levem-se em consideração as constantes mudanças vernáculas, os regionalismos, etc., pois para exemplificar, verifiquemos o que acontece com a nossa língua num período de 10 anos e notaremos que o linguajar muda constantemente além de aumentar o número de palavras com as novas tecnologias e descobertas. Assim foi e assim continua sendo.

Outro texto extraído da internet no site http://www.geocities.com/jeffersonhpbr/entrada.html ,diz o seguinte:

1. Barreiras de Linguagem

A Bíblia foi escrita em três línguas: O Antigo Testamento em Hebraico e algumas poucas partes em Aramaico, e o Novo Testamento em Grego. Nossas traduções em Português, embora muito bem feitas por conselhos editoriais compostos por grandes eruditos nessas línguas, muitas vezes não conseguem achar palavras do nosso idioma que correspondam perfeitamente às do idioma original. Também, é difícil fazer a transposição do tempo, da voz e do modo dos verbos, da sua origem para a atualidade”.

Isto significa dizer que não há uma tradução literal, por maior esforço que se faça neste sentido, justamente por causa desses entraves. Vinculem-se a isto as barreiras geográficas, porque muitos dos acidentes geográficos como rios, lagos, riachos, vilas, cidades, etc., hoje não mais existem.

E os costumes da época, a cultura, será que ainda são os mesmos, posto que mudam também com o tempo? E, durante todo esse longo intervalo será que ninguém meteu o bedelho onde não devia e lá escamoteou ou maquiou alguma coisa? Quem nos garante que não houve alguma alteração intencional? Por que vários livros, considerados apócrifos, ainda hoje são publicados e conhecidos pelo povo? Por que bíblias diferentes para diferentes segmentos do cristianismo?

Pelo exposto, não podemos crer cegamente em tudo que nos induzem a crer, pois, cada orador interpreta e prega de conformidade com os dogmas de sua congregação e continua em pleno vigor a máxima que diz que ninguém é o dono da verdade. A crença é individual, é apanágio de cada indivíduo; não podemos impor a alguém a nossa fé, posto que todos têm o seu livre arbítrio. (continua…)

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