A BOTIJA - Parte 1


Conto – por Romão Silva
Baseado em fatos reais vividos e narrados pelo Sr. João Passos Dias, sobralense e produtor rural. O nome dos personagens deste conto foram preservados pelo próprio narrador e utilizamos os alônimos sugeridos por ele.

O Sr. João Passos Dias, assim como o seu irmão Paulo Dias, também tem das suas estórias para nos deleitar.

Num bate papo no Beco do Cotovelo, solicitei ao Paulo para me contar um caso sobre lobisomem, mas foi seu irmão quem se antecipou e perguntou se servia uma de botija, no que respondi que sim. Então passou a narrar-me o que se segue:
Contou-nos que há algum tempo, comprou uma casa centenária no centro do Distrito de Aracatiaçu, onde passou a morar com a família.
Que certo dia, um cidadão (que chamaremos de Sonhador), neto do antigo proprietário daquela casa, procurou-lhe em seu repouso querendo lhe falar em segredo, ao que ele retrucou dizendo que “qualquer assunto poderia ser tratado ali mesmo, porque “não tinha nada a esconder de sua esposa” que estava presente. Este, embora relutante, resolveu revelar o segredo que tanto o absorvia em seu íntimo.
- Sr. João Passos, aqui estou para lhe revelar um segredo e ao mesmo tempo solicitar a sua ajuda, no sentido de não divulgar ao mundo; quero também pedir sua permissão para efetuar um trabalho de busca em seus domínios. Trata-se de uma botija que ganhei de meu avô, de saudosa memória, que ma deu em sonho. O senhor me permite Seu João?
- Sim. Mas onde está essa botija?
- Aqui na sua casa. O Sr. Me deixa mesmo tirar esse tesouro, seu João?
- Sim, eu deixo, mas onde é que ‘tá esse negócio mesmo? Tu tens certeza de que é aqui?
- Sim, senhor, eu posso lhe mostrar o local.
- Pois então vamos lá, me mostra.
O Sonhador pediu licença e adentrou o recinto indo parar no canto de um pequeno quarto nos fundos da casa, e num dos cantos, apontou:
- É aqui mesmo, neste local. Ele me disse que está aqui e que jaz dentro de dois garrafões compridos, nos quais ele guardava farinha para comer no inverno.
- Pois muito bem, pode retirar sua botija na hora que quiser.
- Bem, seu João, eu lhe agradeço pela sua anuência e pergunto se posso procurar um homem de coragem para me ajudar, porque, o senhor sabe, dizem que aparecem algumas visagens enquanto se procura a botija, que deve ser cavada à meia noite e sob a luz de velas bentas. Para isso, vou contatar o Corajoso, que é um varão destemido e esperto. Como se trata de um trabalho assaz perigoso, preciso de um terceiro ajudante para fazer a escavação.

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