O PASSAGEIRO FANTASMA

O PASSAGEIRO FANTASMA

Por Antromsil

Baseado em caso real

imageNo final do século passado, por volta do ano 1994, iniciou-se o serviço de mototaxi em Sobral.

Um dos sobralenses de nome Carlos, desejando tomar umas e outras por aí afora, contratou os serviços de um desses profissionais para lhe conduzir até a vizinha cidade de Alcântaras, onde já tinha se ambientado, pois, costumeiramente se alternava nos bares e botecos daquela cidade, a bebericar, conhecendo, de per si, os seus frequentadores e seus pormenores.

Alcântaras, localizada na Serra da Meruoca, Noroeste cearense, é pela sua localização, bastante acidentada. Numa de suas ruas havia um cemitério, cujo portão sem tranca dava acesso à outra que ficava nos fundos deste e que, pelos obstáculos do terreno, tinha uma trilha que o atravessava cortando caminho, bastante utilizada pelos seus habitantes. O nosso protagonista conhecia bem este atalho.

Quando chegaram à cidade, o mototaxista foi orientado a seguir por determinado logradouro que passava em frente ao citado cemitério e, em lá chegando, Carlos solicitou que este ali parasse. Apeou-se da moto e pediu que o condutor o aguardasse enquanto trocava dinheiro para efetuar o seu pagamento. O motoqueiro, por sua vez, encostou-se próximo a uma mangueira e ficou aguardando o retorno de passageiro.

Carlos entrou no cemitério e pelo atalho que conhecia, dirigiu-se ao boteco do qual já era velho freguês, lá permanecendo a confabular e beber com os amigos de farra.

O motoqueiro, apesar de o ter visto entrar no cemitério, não deu muita atenção ao fato, por ser dia e presumindo que este fosse tratar algum assunto com alguém que ali se encontrava à sua espera ou coisa semelhante.

Porém, o tempo que não cessa em sua caminhada passou lépido e com a ele, a memória de Carlos e a paciência do mototaxista, que olhando o relógio, apercebeu-se de estar deixando de ganhar mais dinheiro com o transporte de outros passageiros, apressando-se em tomar uma decisão: ir embora arcando com o prejuízo da corrida ou ir atrás do passageiro que o lograra.

Uma senhora habitante de uma casa próxima do local que os vira chegar, viu que o rapaz se inquietava com a demora de Carlos, aproximou-se e perguntando do que se tratava, foi logo informada do ocorrido.

- Bem, senhora, eu fui contratado para vir até aqui por um senhor de uns 45 anos, aproximadamente, moreno, magro, olhos castanhos, vestindo caça jeans e camisa branca, que entrou aí no cemitério e disse que voltava logo, mas, até agora...

- Estranho, moço, pois aí não tem ninguém, a não ser, os mortos.

- É, eu também achei estranho, a princípio, mas imaginei que fosse tratar com alguém que aí fazia algum trabalho em algum túmulo ou laje de algum parente.

- Entremos, então, pra ver se ele está por aí. O dia ainda está claro e não nos custará nada dar uma olhadinha.

Os dois entraram no campo santo, percorrendo todas as suas artérias sem nada encontrar é claro, porque ali não havia vivalma.

Sem mais delongas, o motoqueiro agradeceu à senhora e montando em seu transporte pegou o caminho de volta, impressionado com o bizarro sumiço do seu passageiro. Já nem se importava mais com o prejuízo da corrida.

Carlos, por sua vez, após tomar umas e outras com os amigos pegou outro transporte, antes que o mototaxista se decidisse a voltar e dirigiu-se até a localidade conhecida como Marina, na descida da ladeira, lá dando continuidade à sua bebedeira.

Sentado próximo da estrada, viu quando o mototaxista se aproximava e pra ele gritou:

- Ei, mototaxista, vem receber teu dinheiro!

- O rapaz quando o avistou tomou um baita dum susto ao reconhecer o passageiro, nele não acreditando ver ninguém além de um fantasma e, ato contínuo, acelerou a moto indo-se embora.

Dias depois do ocorrido, um dos amigos que com ele bebia lá onde se achava no instante em que gritou para o motociclista receber o pagamento da corrida, e que também conhecia mototaxista, perguntou o que havia ocorrido entre ambos. Após o relato sucinto do caso, o amigo lhe falou:

- Rapaz, cria juízo! Carlos, tu quase mata aquele rapaz de susto. O coitado chegou em casa apavorado e todo cagado!

Postar um comentário