Filosofia–Definição e história–Parte 3

Evolução histórica

Pensamento mítico e pensamento filosófico

clip_image002                              A Morte de Sócrates, Jacques-Louis David, 1787.

A filosofia surgiu nos séculos VII-VI a.C. nas cidades gregas situadas na Ásia Menor. Começa por ser uma interpretação des-sacralizada dos mitos cosmogônicos difundidos pelas religiões do tempo. Não apenas de mitos gregos, mas dos mitos de todas as religiões que influenciavam a Ásia menor.

Os mitos foram, segundo Platão e Aristóteles, a matéria inicial de reflexão dos filósofos. Os mitos tornaram-se um campo comum da religião e da filosofia, revelando que a pretensa separação entre esses dois modos do homem interpretar a realidade não é tão nítida como aparentemente se julga.

Filosofia antiga

Histórica e tradicionalmente, a filosofia se inicia com Tales de Mileto. Ele foi o primeiro dos filósofos pré-socráticos a buscarem explicações de todas as coisas através de um princípio ou origem causal (arché) diferentemente do que os mitos antes mostravam.

Ao apresentarem explicações fundamentadas em princípios para o comportamento da natureza, os pré-socráticos chegaram ao que pode ser considerado uma importante diferença em relação ao pensamento mítico. Nas explicações míticas, o explicador é tão desconhecido quanto a coisa explicada. Por exemplo, se a causa de uma doença é a ira divina, explicar a doença pela ira divina não nos ajuda muito a entender porque há doença.

Platão é quem inicia esta nova linguagem, a filosofia como a conhecemos, a busca da essência, a ontologia dos conceitos universais em detrimento do conhecimento vulgar e sensorial.

Por muito tempo a Filosofia concebia tudo o que era conhecimento, basta ver a vasta obra de Aristóteles, que abrange desde a física até a ética. Ainda hoje é difícil definir o objeto exato da filosofia.

Seus objetos próprios são:

· Metafísica: Concerne os estudos daquilo que não é físico (physis), do conhecimento do ser (ontologia), do que transcende o sensorial e também da teologia.

· Epistemologia: Estudo do conhecimento, teoriza sobre a própria ciência e de como seria possível a apreensão deste conhecimento.

· Ética: Para Aristóteles, é parte do conhecimento prático já que nos mostraria como devemos viver e agir.

· Estética: A busca do belo, sua conceituação e questionamento. O entendimento da arte.

· Lógica: A busca da verdade, seu questionamento, a razão.

Filosofia medieval

Ver artigo principal: Filosofia medieval

 

A filosofia medieval é a filosofia da Europa ocidental e do Oriente Médio durante a Idade Média. Começa, aproximadamente, com a cristianização do império romano e encerra-se com a Renascença. A filosofia medieval pode ser considerada, em parte, como prolongamento da filosofia greco-romana[13] e, em parte, como uma tentativa de conciliar o conhecimento secular e a doutrina sagrada.[14]

A Idade Média carregou por muito tempo o epíteto (Palavra ou frase que qualifica pessoa ou coisa; alcunha, codinome) depreciativo de "idade das trevas", atribuído pelos humanistas renascentistas; e a filosofia desenvolvida nessa época padeceu do mesmo desprezo. No entanto, essa era de aproximadamente mil anos foi o mais longo período de desenvolvimento filosófico na Europa e um dos mais ricos. Jorge Gracia defende que “em intensidade, sofisticação e aquisições, pode-se corretamente dizer que o florescimento filosófico no século XIII rivaliza com a época áurea da filosofia grega no século IV a. C.”[15].

Entre os principais problemas discutidos nessa época estão a relação entre fé e razão, a existência e unidade de Deus, o objeto da teologia e da metafísica, os problemas do conhecimento, dos universais e da individualização.

Entre os filósofos medievais do ocidente, merecem destaque Agostinho de Hipona, Boécio, Anselmo de Cantuária, Pedro Abelardo, Roger Bacon, Boaventura de Bagnoregio, Tomás de Aquino, João Duns Escoto, Guilherme de Ockham e Jean Buridan; na civilização islâmica, Avicena e Averrois; entre os judeus, Moisés Maimônides.

Tomás de Aquino (1225-1274), fundador do tomismo, exerceu influência inigualável na filosofia e na teologia medievais. Em sua obra, ele deu grande importância à razão e à argumentação, e procurou elaborar uma síntese entre a doutrina cristã e a filosofia aristotélica. A filosofia de Tomás de Aquino representou uma reorientação significativa do pensamento filosófico medieval, até então muito influenciado pelo neoplatonismo e sua reinterpretação agostiniana.

Filosofia do Renascimento

Ver artigo principal: Filosofia do Renascimento

clip_image005O Homem vitruviano, de Leonardo Da Vinci, resume vários dos ideais do pensamento renascentista.

A transição da Idade Média para a Idade Moderna foi marcada pelo Renascimento e pelo Humanismo.[16] Nesse período de transição, a redescoberta de textos da Antiguidade[17] contribuiu para que o interesse filosófico saísse dos estudos técnicos de lógica, metafísica e teologia e se voltasse para estudos ecléticos (Relativo ao, ou que é partidário do ecletismo; formado de elementos colhidos em diferentes gêneros ou opiniões) nas áreas da filologia, da moralidade e do misticismo. Os estudos dos clássicos e das letras receberam uma ênfase inédita e desenvolveram-se de modo independente da escolástica tradicional. A produção e disseminação do conhecimento e das artes deixam de ser uma exclusividade das universidades e dos acadêmicos profissionais, e isso contribui para que a filosofia vá aos poucos se desvencilhando da teologia. Em lugar de Deus e da religião, o conceito de homem assume o centro das ocupações artísticas, literárias e filosóficas.[18]

O renascimento revigorou a concepção da natureza como um todo orgânico, sujeito à compreensão e influência humanas. De uma forma ou de outra, essa concepção está presente nos trabalhos de Nicolau de Cusa, Giordano Bruno, Bernardino Telesio e Galileu Galilei. Essa reinterpretação da natureza é acompanhada, em muitos casos, de um intenso interesse por magia, hermetismo e astrologia – considerados então como instrumentos de compreensão e manipulação da natureza.

À media que a autoridade eclesial cedia lugar à autoridade secular e que o foco dos interesses voltava-se para a política em detrimento da religião, as rivalidades entre os Estados nacionais e as crises internas demandavam não apenas soluções práticas emergenciais, mas também uma profunda reflexão sobre questões pertinentes à filosofia política. Desse modo, a filosofia política, que por vários séculos esteve dormente, recebeu um novo impulso durante o Renascimento. Nessa área, destacam-se as obras de Nicolau Maquiavel e Jean Bodin.[19]

Filosofia moderna

Ver artigo principal: Filosofia do século XVII e Iluminismo

clip_image007René Descartes, fundador da filosofia moderna e do racionalismo.

A filosofia moderna é caracterizada pela preponderância da epistemologia sobre a metafísica. A justificativa dos filósofos modernos para essa alteração estava, em parte, na ideia de que, antes de querer conhecer tudo o que existe, seria conveniente conhecer o que se pode conhecer.[20]

Os principais debates dessa época foram, portanto, debates epistemológicos. O racionalismo, a escola que ressalta o papel da razão na aquisição do conhecimento, teve como seu principais protagonistas René Descartes, Baruch Spinoza e Gottfried Leibniz. Por outro lado, a escola empirista, que defende que a nossa única fonte de conhecimento é a experiência, teve como defensores Francis Bacon, John Locke, David Hume e George Berkeley.

Em 1718, Immanuel Kant publicou a sua famosa Crítica da Razão Pura, em que rejeita aquelas duas correntes e propõe uma alternativa. Segundo Kant, apesar de o nosso conhecimento depender de nossas percepções sensoriais, essas não constituem todo o nosso conhecimento, pois existem determinadas estruturas do sujeito que as antecedem e tornam possíveis a própria formação da experiência. O espaço, por exemplo, não seria uma realidade que passivamente assimilaríamos a partir de nossas impressões sensoriais. Ao contrário, somos nós que impomos uma organização espacial aos objetos. Do mesmo modo, o sujeito não aprende, após inúmeras experiências, que todas as ocorrências pressupõem uma causa; antes, é a estrutura peculiar do sujeito que impõe aos fenômenos uma organização de causa e efeito. Uma das consequências da filosofia kantiana é estabelecer que as coisas em si mesmas não podem ser conhecidas. A fronteira de nosso conhecimento é delineada pelos fenômenos, isto é, pelos resultados da interação da realidade objetiva com os esquemas cognitivos do sujeito.

Na França, difundiram-se as ideias do empirismo inglês; e o entusiasmo com as novas ciências levou os intelectuais franceses a defender uma ampla reforma cultural, que remodelasse não só a forma de se produzir conhecimento, mas também as formas de organização social e política. Esse movimento amplo e contestatório ficou conhecido como Iluminismo. Os filósofos iluministas rejeitavam qualquer forma de crença que se baseasse apenas na tradição e na autoridade, em especial as divulgadas pela igreja católica. Um dos marcos do Iluminismo francês foi a publicação da Encyclopédie. Elaborada sob a direção de Jean le Rond d’Alembert e Denis Diderot, essa obra enciclopédica inovadora incorporou vários dos valores defendidos pelos iluministas e contou com a colaboração de vários de seus nomes mais destacados, como Voltaire, Montesquieu e Rousseau.

Postar um comentário