INQUISIÇÃO (O início da Santa Inquisição) – Parte 2

Fonte: http://demolaychapeco.vilabol.uol.com.br/inquisicao.html (em;31/12/09)

Ordem DeMolay

Capítulo Chapecó n.° 252

 “Introdução

imageVamos conhecer a partir de agora o estudo da Inquisição que tem como história o relato de todos os acontecimentos maléficos promovidos pela Igreja Católica, desde a captura dos "hereges" até a sua morte. Se pararmos para analisar, observaremos que a Inquisição ocorre até os dias de hoje.

Observa-se que muitos países ainda possuem regimes totalitários, a prática da tortura em pessoas, a situação dos numerosos dissidentes políticos e sociais confinados em campos de concentração, o isolamento de milhares de criaturas humanas proibidas de conhecer a história de suas origens e cultura, a miséria espiritual de homens condenados ao silêncio e a incomunicabilidade, o recrudescimento (agravamento, exacerbação) do racismo mascarado em novas ideologias que, entre outras coisas, fazem parte da realidade do mundo de hoje, e podemos buscar na Inquisição o seu mais perfeito modelo.

Há algumas décadas, mais de trinta milhões de pessoas foram dizimadas em poucos anos durante a Segunda Guerra Mundial. O Japão foi destruído com a explosão das bombas atômicas em Hiroshima e Nagasaki; no Vietnã muitas pessoas também morreram durante o conflito desse país com os Estados Unidos.

A Inquisição teve início com o estabelecimento dos Tribunais do Santo Ofício da Inquisição nos países da Espanha e Portugal. Durante muitos séculos esta Instituição poderosa, procurou "hereges" nos reinos e nas colônias, homens e mulheres de diferentes classes sociais por não crerem, pensarem, ou se comportarem de forma diferente dos padrões e regras impostas pela Igreja Católica.

Conceito de Heresia

Em fins do século XVIII, a Igreja Católica sentiu-se ameaçada por uma série de críticas feitas aos dogmas sobre os quais se apoiava a Doutrina Cristã. Essas críticas e dúvidas sobre a verdade absoluta da mensagem da Igreja aumentaram, e os indivíduos que partilhavam dessas idéias contestadoras da doutrina oficial do catolicismo eram chamados de hereges.

A palavra herege origina da palavra grega "hairesis" e do latim haeresis e significa doutrina contrária ao que foi definido pela Igreja Católica em matéria de fé. No que diz respeito propriamente ao conceito de heresia, foi aceita a definição do teólogo medievalista M. D. Chenu, de que herege é "o que escolheu'', o que isolou de uma verdade global uma verdade parcial, e em seguida se obstinou na escolha. A heresia é uma ruptura com o dominante e ao mesmo tempo é uma adesão a uma outra mensagem. É contagiosa e em determinadas condições dissemina-se facilmente na sociedade. Daí o perigo que representa para a ordem estabelecida, sempre preocupada em preservar a estrutura social tradicional.

No fim do século XV, isto é, no início da época moderna, foi criada na Espanha uma instituição, que se inspirou nos moldes das que haviam funcionado na Europa durante a época medieval: O Tribunal do Santo Ofício da Inquisição. O caráter cruel e desumano de seu funcionamento talvez não tenha precedentes na história da civilização, até o surgimento do nazismo no século XX. Há, contudo, um fato importante que deve ser cuidadosamente anotado para que possamos entender o complexo fenômeno da perseguição às heresias na Espanha e Portugal: a palavra "heresia" adquiriu com o tempo diversas conotações, e para os inquisidores portugueses tinha um sentido muito definido e específico, que estava registrado em seus regimentos. Diz textualmente o Regimento da Inquisição de 1640, no Livro III, p.151: "contra os hereges e apóstolos que, sendo cristãos batizadores, deixam de ter e confessar nossa fé católica". E também contra os indivíduos "que confessam nela" ( na Inquisição ) "as culpas de judaísmo, ou de qualquer outra heresia ou apostasia". É, pois o português batizado, descendente de judeus convertidos ao catolicismo e praticante secreto do judaísmo, um herege perante a Igreja Católica em Portugal.

A Inquisição Medieval

O aumento das contestações aos dogmas da Igreja na Europa Ocidental levou o Concílio de Verona, em 1814 a nomear bispos para visitarem duas vezes por ano as paróquias suspeitas de heresia. Havia um Regimento especial que norteava o trabalho desses "fiscalizadores de idéias" e os bispos o título de Inquisidores Ordinários. A Inquisição medieval foi produto de uma longa evolução durante a qual a Igreja e o Papado sentiam-se ameaçados em seu poder. Mas para que a caça aos hereges surtisse efeito era necessário o apoio do Estado, dos soberanos temporais, o que mostra a implicação política dessas perseguições, principalmente numa época em que a Igreja e o Estado estavam unidos.

As heresias medievais pondo em dúvida os dogmas do catolicismo e a infalibilidade da Igreja abalavam o poder e a força da Santa Sé. Além da cruzada religiosa empreendida contra os hereges nos séculos XII e XIII está também a luta contra a ameaça ao poder.

Apesar do controle da Igreja, não foi possível conter a difusão das heresias, principalmente dos cátaros ou albigenses (Indivíduo dos albigenses, membros de uma facção da seita dos cátaros, que professavam doutrina maniqueísta, pregavam a austeridade e a não-violência, tendo surgido no S. da França no séc. XI, e sido exterminados no séc. XIII), contestadores dos dogmas a Igreja e que no sul da França constituíram-se numa espécie de Igreja contra a Igreja de Roma. Medidas severíssimas foram tomadas pela Santa Sé, e os eclesiásticos especialmente enviados aos lugares "infectos" constituíram a chamada "Inquisição delegada". A "Inquisição delegada" foi criada pelo papa Gregório IX, que se tornou-se governador e dirigente principal da luta contra os apóstatas (Que ou quem cometeu apostasia. Apostasia=Separação ou deserção do corpo constituído (de uma instituição, de um partido, de uma corporação) ao qual se pertencia. Abandono da fé de uma igreja, especialmente a cristã). Domingos de Gusmão, criador da Ordem dos Dominicanos organizou em 1219 uma confraria chamada "milícia de Jesus Cristo". Os membros da milícia de São Domingos foram os primeiros a utilizar e aplicar técnicas de crueldade e violência, que foram copiadas nos séculos XVI, XVII e XVIII pela Inquisição moderna. A inquisição medieval exterminou comunidades inteiras, dizimou populações e queimou milhares de indivíduos.

Através da ideologia do catolicismo, a Igreja oferecia aos seus fiéis, na Idade Média como hoje, uma mensagem de salvação, de vida eterna, que poderia ser alcançada através da crença em Jesus Cristo. O ideal da Igreja era manter a unidade da doutrina, que nesse tempo ainda se encontrava fraca para manter as dissidências. O problema do bem e do mal, da natureza humana e da Igreja, sobre a própria conduta da vida e sobre o fim do homem.

A Inquisição medieval e a Inquisição moderna ( principalmente Espanha e Portugal ) apoiavam-se em bases comuns: a delação, a denúncia, os "rumores".

A Inquisição penetrou em muitos países, inclusive na Europa Oriental, mas teve mais força e eficácia na Europa Ocidental, principalmente no sudeste da França.

Em 12 de maio de 1314 dá-se o primeiro auto-de-fé e seis indivíduos acusados de heresia foram queimados. Já em Valência houve um auto que se tornou célebre, pois foram queimados vinte e cinco pessoas que não quiseram arrepender-se, abjurar-se de suas crenças e confessar que a Igreja estava certa. À medida que as heresias alastravam-se, o herege passou a ser visto como uma perigosa ameaça e como um traidor de Deus. Então percebemos que a Igreja Católica funcionava como uma espécie de "empresa", com uma determinada ordem e hierarquia, estabelecendo sua organização, suas leis, suas regras punitivas e suas promessas de gratificação. Já os infratores das regras eram punidos com: a excomunhão, o confisco de todos os seus bens, o exílio, a prisão perpétua, os açoites e até a sua morte na fogueira.

Com a centralização do poder, no final do século XV, os judeus, apesar de numerosos e influentes, nunca tiveram o domínio político sobre a Espanha, como os mouros e viviam no território hispânico muito tempo antes destes. Suas origens remontavam ao período antes de Cristo e existem na Espanha lápides mortuárias com inscrições em hebraico datadas do século III d.C.

A maneira diferente como judeus e árabes trajavam-se, suas leis dieléticas, suas ocupações sócio-profissionais específicas, seus costumes nunca foram considerados ou mencionados como delitos, nem as diferenças culturais vistas com desconfiança. Os judeus freqüentavam as festas religiosas e os batismos dos seus cristãos e estes eram convidados para as cerimônias das crianças judias. Já os cristãos convidavam judeus para entoarem suas ladainhas durante o sepultamento de seus familiares, e os casamentos mistos também.

O IV Concílio de Latrão, reunido em 1215, determinou que todos os judeus usassem obrigatoriamente um distintivo, para que não fossem confundidos com os cristãos. Nem em Portugal, nem na Espanha esta ordem foi cumprida. A liberdade e tolerância que desfrutaram durante tão longo período sob a bandeira árabe permitiu o desenvolvimento amplo de suas potencialidades, e os judeus alcançaram posições de grande prestígio, tanto na área política como na econômico-financeira. Seu estilo de vida comparava-se ao das classes aristocráticas.

O avanço dos conhecimentos de arte náutica, a expansão marítima e o desenvolvimento do comércio foram fatores que levaram ao amadurecimento de uma classe média, ansiosa de participar nos lucros e de ascender socialmente. O confronto desta burguesia cristã com a já sedimentada e tradicional burguesia judaica foi explorado pelas facções do poder, principalmente a Igreja, que procurava liderar uma intensiva propaganda anti-judaica, responsabilizando os judeus por todos os males que afligiam a nação. No decorrer do século XIV, gradativamente, aumentaram os pedidos de restrições as atividades aos judeus. Para escaparem da morte os judeus procuravam voluntariamente o batismo.

A partir disso, dá-se início a uma política racista que procurava justificativas acusando todos os conversos de serem falsos cristãos, mas que na verdade nasceu do conflito entre a burguesia cristã-velha e a burguesia cristã-nova. Não eram raros.

Essa política disseminou contra os conversos, dando origem aos "estatutos de pureza de sangue", segundo o qual nenhum descendente de judeu e mouro, até a sexta ou sétima geração, podia pertencer às corporações profissionais, cursar nas universidades, ingressar nas ordens religiosas ou militares ou ocupar qualquer posto oficial. O fato de terem sido as corporações profissionais as primeiras instituições a adotar os estatutos de pureza de sangue, e não a Igreja, mostra claramente que se tratava de um problema social, mesmo que tivesse envolvimento religioso.

O Tribunal da Inquisição na Espanha foi criado com o objetivo extirpar a heresia judaica e eliminar os conversos suspeitos de a praticarem, acusados de estarem contagiando a sociedade espanhola. O Tribunal da Inquisição espalhou-se por todas as cidades da Espanha dentre elas podemos citar Granada, Castela, Aragão, Sevilha, Catalunha e Valência. Tudo isso foi feito pela ordem do inquisidor geral Tomás de Torquemada, chefe do mosteiro dominicano de Santa Cruz em Segóvia.”

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