O FAZENDEIRO AUSTERO - 2ª parte

Parte 2

Atendendo ao sábio conselho do meu capataz voltei para casa, tomei um chá de erva cidreira, me deitei um pouco e pedi para não ser incomodado por um bom tempo, enquanto alumiavam-se as idéias.
Lá pelas 10:00h da manhã, levantei-me, já com os ânimos mais serenos, entrei no carro e me dirigi ao Fórum para conversar com o Promotor, que é meu amigo, para lhe pedir instruções de como agir neste caso.
Não obstante estivesse despachando com o Sr. Juiz, deu uma pausa e me chamou pessoalmente, oferecendo-me o assento e logo pedindo que falasse o assunto que queria abordar. Ato contínuo e sem mais delongas lhe narrei todo o acontecido. Este, por sua vez, ao ouvir o meu relato, pegou o telefone e ligou para o Delegado solicitando que ele me desse a cobertura necessária para o caso. Em seguida, ligou para a seccional do IBAMA fazendo a mesma recomendação e mandou que eu fosse prestar as queixas de praxe e aguardasse o resultado.
Não deu outra! Os “homens” em conjunto verificaram o local, fizeram campana e apanharam-no com a mão na botija. Deram-no voz de prisão, colocaram-lhes as cadeias e o levaram a ferros. Foi preso em flagrante delito juntamente com os seus comparsas.
- Então foi assim, compadre? Como vai ser com prejuízo? Tem como reaver pelo menos em parte?
- É, compadre, talvez sim e talvez não. Quem sabe sim porque o caso está com a jus-tiça e talvez não, porque não sei se ele ou mais precisamente eles, já que se trata de uma quadrilha, dispõem do montante apurado com o rombo ou se já gastaram tudo, porque, ele mesmo acredito que já estourou a parte que lhe coube na divisão da ladroagem. Entretanto, de minha parte vou exigir o que me é de direito.
- E, por coincidência, compadre, há poucos dias ouvi alguns boatos de que ele é usei-ro e vezeiro nesse tipo de falcatrua. Que vem de um lugar para outro, qual macaco pulando de galho em galho, esquivando-se dos seus perseguidores, por causa de seus atos ilícitos, o que lhe valeu o apelido de Cigano. Por isso lhe procurei com o fim de corroborar os falatórios.
- Dessa eu não tinha tomado conhecimento, do contrário, teria me precavido.
Passados alguns instantes de silêncio enquanto cada um se acomodava melhor na ca-deira e era servida uma nova chávena de café, chega um segundo morador conduzindo um senhor de meia idade que queria ter uma conversa com o Sr. Justino.
Convidados a sentar e servir-se de café, o Sr. Justino pede que o visitante fale sem cerimônia, pois estava entre amigos.
- Sr. Justino, meu nome é Feliciano, sou novo na região e estou morando a cerca de légua e meia daqui. Sou um homem pobre, ainda não estou estabilizado por falta de alguém que me contrate para o serviço da roça, que é de onde eu vim. Por esta razão, venho aqui, com o devido respeito, fazer-lhe dois pedidos: o primeiro deles é trabalho, porque tenho mulher e três filhos menores pra sustentar. O segundo, se não lhe desagrada, deixar que pesque no seu açude o sustento de um dia para minha família, nada mais do que isto.
- Sr. Feliciano, por enquanto vou lhe atender um pedido; pesque e cace o que for ne-cessário enquanto se arruma, mas, somente o indispensável a sua subsistência e dos seus familia-res. Quanto ao segundo pedido, aguarde um tempo enquanto verifico a carência de pessoal e me procure daqui há quinze dias, isto se você não encontrar logo onde trabalhar. Só lhe peço uma coisa: não faça como alguns que me aparecem aqui com falácias embromadoras e que, ao invés de comer o que caça e pesca, vende e volta para desviar mais. Não me decepcione. Não quero ser ranzinza e nem exigente demais, porém, não gosto de pessoas falsas e trapaceiras. Por favor, me desculpe se estou sendo impertinente.. É o meu jeito.
- Sim, senhor, eu compreendo e lhe agradeço; que Deus lhe pague.
Após despedir-se o homem foi-se embora. A Conversa continuou reiniciada por Jus-tino que contou outros casos a mais para o amigo.
- Veja bem, meu compadre, como estamos rodeados de toda sorte de embusteiros da pior qualidade. Gente preguiçosa que não procura aprender uma profissão, que só pensa em tirar vantagem das outras pessoas sem se importar na ilicitude ou não dos seus atos. Estes, vez por outra me aparecem por cá, e, por mais cautela que se tenha sempre dão um jeito de nos engabelar.
Por outro lado, há gente que não tem precisão de coisas pequenas como a caça e a pesca de nossas terras. Gente que sai do conforto do seu lar para caçar avoante, nambu, tatu e até preá, somente pelo espírito esportivo.
Incitadas pelo vício de matar por matar, essas pessoas se arriscam ser picadas por uma cascavel ou escorpião. Compram armamento e munição caros, podendo, a qualquer momento, serem surpreendidas pela fiscalização do IBAMA ou batida da Polícia Ambiental, serem autuadas por porte ilegal de armas e por crime ambiental, complicando suas vidas, que não deixam de ser atribuladas por si mesmas. Em outras palavras, procuram sarna pra se coçar. Essa gente eu não aceito em minhas terras. Falem o que quiserem falar de mim.
...continua...

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