MENDIGOS MODERNOS – Parte 1


Os atuais mendigos são bem diferentes dos de outrora e a cada dia surgem novas classes com nuances bem diferenciadas das demais.

Nos meus tempos de criança, a grande maioria dos pedintes tinha a nudez coberta de andrajos, saudavam e pediam em nome de Deus e realmente agradeciam as migalhas recebidas, de modo que a pessoa desprendida que esmolava se sentia gratificada. Dava pra se perceber que eram realmente necessitados, pelos trapos de suas vestimentas, pelos seus corpos esquálidos e pelo semblante humilde que os caracterizava.

Evidentemente que nunca deixou de existir entre os mendigos de fato, aqueles arguciosos, pilantras travestidos de pedintes escamoteados atrás da desfaçatez com o fito de enganar as almas samaritanas. Nos dias de hoje, estes se multiplicaram e diversificam grandemente o seu modus operandi. Para corroborar minhas palavras, o cidadão sobralense não encontrará óbices, pois, as nossas ruas estão infestadas de todas as castas, desde os mais simples aos mais sofisticados como nos casos que contarei a seguir:

Vez por outra aparece em minha residência um casal sem aparente necessidade, que às vezes estão juntos e às vezes se revezam, em trajes simples, conduzindo uma criancinha de colo aparentemente sadia e bem cuidada, numa cadeirinha em cima de uma bicicleta, a qual é utilizada como chamariz, como motivo principal da abordagem especulativa. Então, pois, quem não tem piedade de criança? Pedem uma “ajuda e aceitam qualquer coisa”, dizem eles. Depois que recebem algum donativo, - onde de preferência se dá alimentos para a criança, - eles pedem “alguns trocados”, em dinheiro vivo, talvez não satisfeito com as oferendas recebidas ou... quem sabe, com outras intenções.

Não quero fazer nenhuma acusação espúria, mas tudo leva a crer que querem o dinheiro para comprar drogas, para jogar ou coisa semelhante, pois, certa feita, um grupo de seis garotos que se utilizava do mesmo artifício, ao se desentender quando pediam em minha casa, descobriram-se uns aos outros, dizendo um que o outro queria o dinheiro para jogar videogame ou caça-níqueis; o outro retrucou afirmando que este queria para comprar cigarros para fumar e assim, como não lograram êxito com a gente em face do desmascaramento, saíram acusando-se mutuamente, aos brados, pela rua.

Não raro aparece um guri, também de bicicleta, às vezes usando tênis, pedindo uma ajuda. Alunos (de não sei qual escola, porque não usam fardamento, mas conduzem mochilas e livros), também pedem e se não forem contemplados, saem xingando.

Há aqueles que exigem logo de entrada o que querem receber, geralmente, arroz, feijão, óleo e açúcar, afirmando de cara que não aceitam qualquer micha. Dá pra se imaginar que estes tem freguesia certa para o produto de sua “mendicância”, termo não muito apropriado para este tipo de prática que deveria ser chamada de exigência ou instância ou quiçá, extorsão.

A minha casa foi o palco dos casos aqui citados, mas, o cenário utilizado por esses vilões da mendicância contemporânea é toda extensão da cidade.

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