Desastre de Fukushima foi causado por "acordo secreto e fraudulento"
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Carlos Orsi - Inovação Unicamp - 19/07/2012
A usina nuclear de Fukushima, no Japão, continua preocupando os japoneses e especialistas do mundo todo.
A gente pensa que só existe fraude no Brasil. Não, a contaminação se espalha qual vazamento de radiação como esta de Fukushima. As autoridades, como era de se suspeitar, sempre contribuem para chafurdar ainda mais o lodaçal de fraudes e corrupção, uma dupla clássica que assinala a falta de caráter dos homens que ocupam altos postos nos escalões do poder industrial, comercial e governamental. Uma vergonha para o planeta Terra, como um todo! Antromsil.
Problemas de hierarquia
O relatório da comissão de inquérito sobre o desastre na usina nuclear de Fukushima, no Japão, entregue à Dieta (o Parlamento japonês) no início de julho, afirma que, embora os eventos que levaram ao radiação e à remoção de 150.000 moradores das imediações do complexo nuclear tenham sido desencadeados por fenômenos naturais, o desastre em si teve forte responsabilidade humana. A usina de Fukushima foi atingida por um terremoto, seguido de um tsunami, em 11 de março de 2011.
"O acidente na Usina Nuclear de Fukushima Daiichi não pode ser encarado como um desastre natural", escreveu o presidente do inquérito, o médico Kiyoshi Kurokawa, ex-presidente do Conselho de Ciência do Japão. "Tratou-se de um desastre de causa profundamente humana, que poderia e deveria ter sido previsto e evitado. Além disso, seus efeitos poderiam ter sido mitigados por uma resposta humana mais eficaz".
Kurokawa prossegue afirmando que o desastre foi um "produto japonês", causado por tradições da cultura do país, como "obediência automática; relutância em questionar autoridade; devoção a 'seguir o programa'". Ele especula que, se outros japoneses ocupassem os postos-chave que falharam no desastre, os resultados teriam sido os mesmos.
Sem fiscalização da sociedade
Entre as causas profundas do desastre, Kurokawa cita o fato de que o setor nuclear japonês sempre se manteve "imune ao escrutínio da sociedade civil", regulamentado "pela mesma burocracia encarregada de promovê-lo".
Ele conclui que a mentalidade burocrática acabou pondo os interesses dos órgãos governamentais envolvidos acima da segurança da população.
O relatório conclui que as explosões e o vazamento de radiação em Fukushima, causados pelo colapso do fornecimento de energia para os sistemas encarregados de controlar a temperatura dos reatores nucleares, foram, em última instância, causados por negligência do operador e dos órgãos reguladores.
"As causas imediatas do acidente eram todas previsíveis antes de 11 de março (...) a Usina Nuclear de Fukushima Daiichi era incapaz de suportar o terremoto e o tsunami que a atingiram naquele dia".
O texto acusa a empresa TEPCo, operadora da usina, e agências governamentais de "falhar em desenvolver corretamente os requisitos de segurança mais fundamentais", como uma avaliação da probabilidade de danos desse tipo de desastre e a preparação de um plano de remoção da população.
"A TEPCO e a Agência de Segurança Nuclear e Industrial tinham consciência da necessidade de reforços estruturais" na usina, afirma o relatório, acrescentando que a agência, no entanto, falhou m exigir a implementação da medida antes do acidente. "E embora houvesse consciência dos riscos de um tsunami para o núcleo dos reatores nucleares, nenhuma regulamentação foi criada".
Acordo secreto e fraudulento
O texto afirma que a possibilidade de um tsunami causar um blecaute na usina de Fukushima era conhecido desde 2006, tanto pelo operador quanto pelos reguladores, mas que nenhuma medida foi tomada a respeito.
O relatório conclui que o acidente foi o resultado de "colusão [acordo secreto e fraudulento] entre o governo, as agências reguladoras e a TEPCO". As partes são acusadas de "trair o direito da nação de viver livre de acidentes nucleares".
Foi apenas em junho de 2012, mais de um ano após o desastre, que o governo japonês decidiu autorizar a reativação de dois reatores nucleares no país. A legislação japonesa exige que cada reator seja desativado periodicamente, para manutenção, e a reativação só pode ocorrer com permissão das autoridades.
Até Fukushima, essa autorização não passava de uma formalidade burocrática, mas desde o acidente, nenhuma permissão para religar reatores havia sido concedida. Com isso, todos os 50 reatores nucleares do país encontravam-se desligados no fim de maio.
Em 16 de junho, o primeiro-ministro Yoshihiko Noda anunciou a reativação de dois reatores da usina de Oi, no oeste do país, depois de obter o apoio do prefeito de Oi e do governador da região.
Segundo o jornal britânico The Guardian, o primeiro-ministro vinha sendo pressionado por um lobby de empresários que temia que a indústria fosse atingida por uma escassez de eletricidade.
A decisão, no entanto, enfrentou contestações: ainda segundo a publicação britânica, cerca de 10.000 manifestantes reuniram-se do lado de fora do gabinete do chefe do governo para protestar contra a autorização.
Virada antinuclear
O Japão deve reduzir a participação da fonte nuclear a 15% de sua capacidade geradora de eletricidade até 2030, um encolhimento significativo em relação aos 26% atualmente ocupados pelo setor.
Com isso, a pesquisa e desenvolvimento na área deverá focalizar estudos sobre descontaminação e desativação, e as matrículas em cursos superiores de energia nuclear já caíram 16%, informava reportagem publicada na edição de 8 de junho da revista Science, pouco antes da reativação de Oi.
Pesquisa de opinião pública indica que, um mês após Fukushima, 10% dos japoneses ainda apoiavam um aumento no uso de energia nuclear no país. Essa proporção havia caído a 2%, seis meses mais tarde.
Essa virada antinuclear da opinião pública japonesa já ameaça a pesquisa e desenvolvimento do setor, indicou a mesma reportagem da Science, que contatou que os investimentos no setor agora concentram-se em questões de desativação e descontaminação, e ainda uma queda de 16% nas matrículas em cursos superiores voltados para a área.
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