CASOS ENGRAÇADOS
O BILHETE
Paulo Dias, conhecido agropecuarista sobralense, tem sido uma fonte valiosa de informações para mim. Já me contou várias estórias, muitas delas engraçadas protagonizadas por seus amigos ou acontecidas com pessoas ligadas a ele.
Contou-me uma em que certa feita, foi procurado por um amigo que lhe propôs sociedade na compra e venda de gado, o que depois de muita insistência deste e uma boa conversa, acertaram os termos do acordo, onde o proponente que chamaremos de Chico, teria que viajar à procura das reses, efetuar a negociação para posteriormente prestar contas como Paulo.
Paulo então mandou que seu Chico providenciasse a compra das reses e as colocasse no embarcadouro que no fim-de-semana, precisamente sexta-feira, encostaria o caminhão para recolher o gado.
Seu Chico, homem de meia idade, forte e bem apessoado, era casado com dona Marisa, mas, como todo varão sertanejo que se preza, tinha também as suas fraquezas e andava de namoricos com uma determinada dama das redondezas, dona Flor, mulher charmosa e fagueira que encantava os olhos de quem a visse desfilando em seu caminho, razão pela qual despertava a cobiça de muitos que anelavam um dia cair em sua graça.
Seu Chico tinha um amigo, Vicente, que duvidava dos seus dotes másculos, de ser o conquistador daquela que era o alvo de todos os olhares masculinos desejosos de saciar a sua sede viril em seus braços, dizendo que este “não era capaz de tal proeza”.
Certo dia, seu Chico preparava-se para uma jornada, em busca de um bom negócio, quando recebeu um bilhete da referida senhora, cujo teor, embora velado, dá para entender que se tratava da marcação de encontro entre ambos para o que todo mundo já deve supor. Mas que depressa, colocou o bilhete no bolso da camisa, imaginando mostrá-lo a Vicente, o seu amigo despeitado, assim que tivesse oportunidade e seguiu para casa onde deveria providenciar os preparativos da viagem.
À noite, conversou com seu capataz dando-lhe as instruções necessárias, acrescentando que este deveria preparar, pela madrugada, os arreios e apetrechos reclamados para a empreitada.
Depois disso, retirou suas vestes deixando a camisa pendurada no cabide. Após de um bom banho, deitou-se e ferrou no sono, despertando somente pelas quatro da madrugada, momento em que se dirigiu à esposa que ainda dormia no quarto ao lado, pediu-lhe que fizesse o café e um reforço para o estômago, pois, a viagem era demorada e não havia como se alimentar no caminho. Depois disso, conversou com o seu capataz e mandou que este, após banhar o burro de carga e a burra de montaria, os deixasse se alimentando na frente da casa e o restante seria com ele.
Enquanto isso, o nosso protagonista resolveu deitar-se novamente e cochilar, esperando que esposa preparasse o café. Ao se deitar, seu Chico lembrou-se do tal bilhete e rapidamente levantou-se para recolhê-lo quando, para seu espanto e decepção, dona Marisa se entretinha na leitura daquela mensagem indecente e atrevida que a deixou num estado entre estarrecida, confusa, humilhada e traída. Percebendo a presença de seu Chico, volveu o olhar para este que a encarava em estado semelhantemente surpreso e confuso, num acesso de cólera, soltou os cachorros, desabafando!
- Seu canalha, cabra velho sem vergonha! Tu lá vai viajar. Tu vai é se encontrar com essa cadela! – apontando para o papel em sua mão.
- Calma…
- Calma o que, cabra safado, tu pensa que eu sou o quê…
E assim, depois de muito esbravejar, deu vazão à sua raiva, às suas mágoas, enquanto que o marido sem saber o que fazer, saia de fininho tentando se sair daquele episódio crítico.
Evidentemente que seu Chico não podia e nem devia, naquele momento, argumentar com a mulher que estava irada e coberta de razão, pois, havia flagrado o mesmo de calças curtas e essa situação embaraçosa fez com que o mesmo se apressasse, indo diretamente a procura das celas para arrear os animais e sair dali o quanto antes para evitar mais constrangimento. Pegou então a cela para preparar a burra que ainda se alimentava e quando foi apertar a cilha, esta virou a cabeça e aplicou-lhe uma mordida de jeito por baixo das costelas que o deixou ainda mais desconcertado, agora quase a gritar de dor com a agressão do animal.
Dona Marisa que o acompanhara até à porta para completar seu desabafo, agora, diante daquela cena, mudou o semblante e desatou a rir do marido que se contorcia em lamentosos ais, dizendo:
- Ai, aí, uiiii, com todos os diabos, será que até a peste dessa burra também leu esse bilhete!
Por antromsil
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